Angustiado e com lágrimas nos olhos, Eduardo Luís Rui, 19 anos, veio de Santa Maria para Caxias na tarde desta segunda-feira. Ele cursa Tecnologia em Alimentos na UFSM, um dos cursos que promoveram a festa do sábado na boate Kiss. Eduardo tinha 20 colegas de curso na festa e 10 morreram.
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Entre os mortos, três eram amigos próximos do estudante: Ariel Andreatta, Bruna Graeff e Letícia Baú. Nesse dia Eduardo não foi para a Kiss com os colegas. Mesmo com insistência dos amigos, não comprou ingresso porque ele não gostava do lugar.
O guri ainda disse que conversou com a melhor amiga, Letícia Baú, de Tucunduva, e pediu para que ela não fosse à festa. Eduardo foi com amigos para outra boate e, na madrugada, soube que a amiga estava na Kiss.
– Eu estava aliviado porque ela me disse que não ia. Quando soube, comecei a chorar e não parei mais – lamenta.
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Às 19h de domingo, chegou a confirmação de que Letícia estava morta. Ela foi uma das últimas vítimas a ser identificada. Eduardo foi duas vezes à boate Kiss em novembro de 2012. Ele disse que gelo seco é comum naquela boate e acredita que muitos jovens se confundiram e não viram que era fumaça.
Conforme o estudante, existiam duas pistas de dança na Kiss. A maior, onde ocorreu o show, era no andar de baixo:
– Tinha duas pistas. Para ir naquela onde o fogo começou, tem que descer uma rampa. Quem estava lá tinha que subir por um corredor estreito para sair. Provavelmente muitos se perderam no caminho. A minha amiga que sobreviveu contou que achou que a fumaça era gelo seco e que o tumulto era por causa de uma briga. Daí ela pegou o namorado e foi em direção à saída. Ela também disse que as pessoas corriam para todos os lados e que logo ficou tudo escuro.
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Em gráfico, entenda a sequência de eventos que originou o fogo

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A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelecimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.
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Veja onde aconteceu

A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio
A festa
Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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