A tragédia de 2008 causou várias cicatrizes no Vale do Itajaí: 24 mortes, três mil deslizamentos e inúmeras perdas materiais, além do sentimento de medo e incerteza a cada vez que o nível de chuva aumentava. Filho de bombeiro militar, Vinícius Parizotto era uma criança quando visitou o Morro do Baú, em Ilhota, e viu de perto os estragos causados pela chuva. Voltou com a certeza de que tentaria fazer algo para que situações assim não se repetissem mais.
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Passados pouco mais de 10 anos e sem vocação para seguir os passos do pai, o agora estudante de Engenharia de Controle e Automação tem 22 anos e pretende ajudar os moradores de áreas de risco com o uso da tecnologia. Em 2017, teve a ideia de criar um equipamento para monitorar a movimentação do solo em encostas, com objetivo de alertar a população antes de possíveis deslizamentos de terra.
Com o conceito e um protótipo, Vinícius foi um dos escolhidos no Sinapse da Inovação, programa do governo estadual que incentiva o empreendedorismo e a inovação. Ele criou com os colegas de trabalho uma empresa chamada Nide, que recebeu R$ 60 mil para entregar dez modelos do equipamento até o início de 2020.
O projeto que está sendo desenvolvido consiste em colocar estacas com sensores em morros. As informações são repassadas por cabos até o gabinete de comunicação, uma espécie de caixa retangular com antena, bateria, amplificador de sinal e carga do painel solar. Esse aparelho é acoplado a um poste, que também é instalado nas proximidades, junto a uma placa solar.
Com o equipamento será possível monitorar em tempo real as fendas e fissuras em áreas de até 20 metros a partir de dados publicados em um site. Em caso de movimentação incomum do solo, um alerta chega aos celulares de moradores com o uso de SMS ou internet via rádio. Ainda há possibilidade de instalar sirenes em áreas sem sinal de telefonia.
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– Eu via a necessidade de um projeto social como esse para a região, com entendimento técnico das necessidades da Defesa Civil e modelo adaptado para a geologia local. Quero que as pessoas tenham mais conforto e segurança, que elas saibam que o local está sendo monitorado mesmo quando não veem o carro da Defesa Civil – destaca.
O projeto está sendo testado em um morro no bairro Pântano do Sul, em Florianópolis. Ao mesmo tempo, será avaliado até o fim de setembro pelo Corpo de Bombeiros Militar em Xanxerê, no Oeste do Estado, com a possibilidade de receber uma certificação. No teste, o equipamento será instalado em uma encosta com a simulação de chuva e deslizamentos de terra para verificar a eficiência do aparelho.
Vinícius afirma que o grupo por enquanto utilizou apenas um quarto da verba recebida com o projeto. O objetivo é chegar ao produto final antes de replicar o modelo a outros nove equipamentos. Após fim do projeto, os aparelhos serão doados para teste da Defesa Civil e demais instituições que atuam em áreas de risco, enquanto a equipe do Nide irá aproveitar o feedback para tornar o equipamento mais barato e acelerar a produção.
Blumenau tem mentoria para participar da seleção deste ano
Vinícius afirma que o apoio do Sinapse da Inovação possibilitou que a empresa se tornasse um produto em pouco mais de um ano, tanto pelo dinheiro quanto pelo networking criado após a entrada no programa. Neste ano, o projeto tornou-se nacional e passou a ser chamado de Centelha, mas os recursos financeiros e o serviço de parceiros segue o modelo de anos anteriores.
Para esclarecer dúvidas sobre o edital e auxiliar a inscrição dos candidatos, o núcleo de Inovação da Associação Empresarial de Blumenau (Acib) fará sessões de mentoria gratuita no coworking Uniavan Blumenau, no Shopping Park Europeu, no bairro Itoupava Norte, na noite desta quarta-feira, e no auditório do campus 2 da Furb na quinta. Os interessados devem se inscrever pelo e-mail nucleos@acib.net ou pelo fone 3326-1230 e levar notebook para acessar a plataforma.
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Coordenadora do núcleo, Ilisangela Mais atuou como avaliadora do Sinapse da Inovação em duas ocasiões e será uma das três pessoas responsáveis pela capacitação. Ela destaca que o programa Centelha pode ser o incentivo necessário para que muitas pessoas tirem as ideias do papel e possam testar protótipos, saber se é viável e fazer as primeiras pesquisas de mercado.
– Muitas vezes quando aparece um edital desse a gente tem vontade de participar, mas não sabe como. É muito comum ter pessoas que inscrevem boas ideias, mas que não conseguem detalhar no projeto com clareza qual será a entrega. Então podemos auxiliar desde o cadastro na plataforma até sugestões sobre o projeto – destaca Ilisangela.