*Por Priya Arora

Deepika Padukone, uma das atrizes mais famosas e bem pagas de Bollywood, tem a liberdade de escolher seus papéis com cuidado. Com seu novo filme – o primeiro que assina como produtora –, ela escolheu debater os casos de ataque com ácido na Índia.

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"Chhapaak", que foi lançado no dia 10 de janeiro na Índia e em algumas cidades ao redor do planeta, é baseado na vida de Laxmi Agarwal, que foi atacada em Nova Déli em 2005 por um homem cujos avanços ela havia rejeitado. Desde então, Agarwal forçou o Supremo Tribunal da Índia a regular a venda de ácido e o Parlamento a facilitar o processo contra pessoas que realizam ataques com ácido.

Os ataques com ácido são cada vez mais comuns em muitos países e afetam muito mais as mulheres, de acordo com a Acid Survivors Trust International. Apenas a Índia registrou cerca de 300 ataques em 2016, mas o número verdadeiro provavelmente é muito mais alto. O estigma dos ataques com ácido é uma forma de banimento social, que traz uma série duradoura de traumas para as vítimas.

"O criminoso ataca uma única vez, mas a sociedade continua atacando o tempo todo, em todos os momentos", afirmou Agarwal em uma entrevista, refletindo sobre sua jornada como ativista. Ela sofreu queimaduras no rosto e foi submetida a sete cirurgias reconstrutivas, enquanto ouvia provocações sobre quem se casaria com ela e que chances teria de ser bem-sucedida na vida. Disse que, quando estava no seu pior momento, percebeu: "Fui vítima de um crime, mas não cometi nenhum crime. Por que estou em silêncio?"

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(Foto: Ashish Shah / The New York Times)

Depois de esconder o rosto em público por oito anos, Agarwal começou a se mostrar. Ela fez um boletim de ocorrência contra o homem que a atacou e ele foi condenado a dez anos de prisão – uma raridade na Índia. Ela pressionou os legisladores indianos a restringir as vendas de ácido (incluindo os tipos mais usados nesse tipo de ataque, o clorídrico e o sulfúrico) e se tornou diretora da Fundação Chhanv, uma ONG dedicada a ajudar pessoas que sobrevivem a ataques com ácido. Em 2014, ela foi homenageada na Casa Branca pela ex-primeira-dama Michelle Obama. Boa parte de sua jornada é contada no filme, que ficcionaliza a história de Agarwal, mas preserva o principal.

O roteiro, que foi adaptado para o cinema pela diretora Meghna Gulzar, chamou imediatamente a atenção de Padukone. Em 2018, ela estava terminando de filmar dois dramas de época e procurava alguma coisa mais leve. Porém a história de Agarwal era muito atraente. "Não é sempre que você descobre em poucos segundos que quer fazer parte de um filme. Bastou ler as primeiras páginas para eu saber que era aquilo que eu queria fazer", afirmou Padukone.

A atriz viu a beleza e o heroísmo da história. "Embora o filme fale sobre ataques com ácido, ele também fala sobre o que as mulheres fizeram de sua vida depois de uma tragédia como essa. Por isso, em minha opinião, ele aborda a força, a determinação e a coragem dessas mulheres", explicou Padukone.

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(Foto: Ashish Shah / The New York Times)

Gulzar, a diretora, viu o filme como uma maneira de expor com leveza as dificuldades financeiras, sociais e legais que afetam as sobreviventes de ataques com ácido. Ela incluiu sobreviventes reais de ataques com ácido no elenco e permitiu que a câmara filmasse o rosto delas com a mesma delicadeza com que mostra a personagem principal, chamada Malti. "Elas superaram o próprio trauma e aceitaram o rosto que as observa quando se olham no espelho. Agora é hora de aceitá-las e de observá-las cara a cara. Não são elas que hesitam, somos nós. Precisamos superar isso", afirmou Gulzar.

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"Trata-se de um filme que mostra imagens fortes, mas que mesmo assim conta uma história que as pessoas querem ver e conhecer. Não queremos que as pessoas virem o rosto porque têm medo do que podem ver", prosseguiu Gulzar.

Durante o início das filmagens, a equipe, que estava em busca do visual perfeito, passava de quatro a cinco horas por dia cuidando da maquiagem de Padukone. Enquanto via o próprio rosto mudar, a atriz teve uma epifania: "Quando olhava para o espelho, continuava me sentindo a mesma pessoa", contou.

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(Foto: Ashish Shah / The New York Times)

Agarwal acredita que isso é fundamental para acabar com o estigma e com os próprios ataques. "Se a beleza fosse importante, você talvez não falasse comigo. Quando resolvi me mostrar, as pessoas não conheciam meu rosto, mas me conheciam por causa da minha coragem. Para mim, isso é beleza."

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