Depois do rapper Ali G, do jornalista cazaque Borat e do fashionista gay Brüno, o ditador sem-noção Shabazz Aladeen.

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Com seu mais recente personagem, o comediante britânico Sacha Baron Cohen volta a buscar na ignorância a matéria-prima para seu humor politicamente incorreto e propositalmente de mau gosto. Em O Ditador, no entanto, deixou de lado a ideia do falso documentário de Borat (2006) e Brüno (2009) e investiu numa comédia ficcional.

Isso significa que o filme que estreia nesta sexta-feira no Brasil deixa de lado aquele humor calcado no constrangimento dos entrevistados para investir numa comicidade de gênero que se constrói sobre um roteiro linear, bem papai-e-mamãe. Está aí uma das justificativas para a sensação de decepção que o longa provoca. Outra: o protagonista de O Ditador é muitíssimo interessante, mas suas piadas são repetitivas, e os demais personagens em cena não têm nada de engraçados.

Assassino, misógino, antissemita, ignorante, o Almirante-General Aladeen é o todo-poderoso na fictícia república de Wadiya, localizada no Norte da África. Gerencia o petróleo de seu país como quem administra as samambaias de seu quintal e trabalha no desenvolvimento de armas nucleares, com as quais sonha bombardear Israel. É uma mistura de Muamar Kadafi (o ditador da Líbia deposto e morto no ano passado) com Gurbanguly Berdimuhamedov (o chefe de Estado do Turcomenistão, famoso por seu machismo e seus hábitos sexuais bizarros).

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– Minhas inspirações foram os ditadores do Oriente Médio acima de tudo – diz Sacha Baron Cohen, em entrevista concedida por telefone a Zero Hora. – A mim interessa muito este tipo de gente, que lida com o poder de maneira tão estúpida e tão inconcebível que ultrapassa a fronteira da responsabilidade e acaba virando um caso de humor estapafúrdio.

Com cara de “o que estou fazendo aqui?”, Ben Kingsley interpreta o braço direito de Mr. Aladeen. Desde o início da trama, seu personagem busca uma forma de depor o ditador para transformar Wadiya numa democracia. Anna Faris é uma ativista dos direitos humanos que se aproxima do déspota quando ele viaja a Nova York para discursar na sede das Nações Unidas – sob ameaça de intervenção internacional, Aladeen é convocado a dar explicações sobre o arsenal nuclear que está montando.

Praticamente toda a história se passa nos Estados Unidos, “o país berço da Aids”, como afirma o protagonista, num dos bons momentos do filme. Na maior parte do tempo, o espectador o vê perdido pelas ruas de Manhattan. É que Aladeen é sequestrado por um sádico segurança interpretado por John C. Reilly – e depois consegue fugir -, enquanto o personagem de Kingsley manipula um sósia para assinar uma nova constituição para Wadiya.

Os registros do choque cultural e a evidência do ridículo da personalidade do ditador rendem boas sequências, mas não raro a falta de noção parece estar também atrás da câmera: as brincadeiras com masturbação e seios fartos não são melhores do que as das comédias adolescentes tradicionais, e as participações de Megan Fox e Edward Norton como eles mesmos são muito mal aproveitadas.

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Diferentemente de Borat e Brüno, O Ditador tem um argumento bem melhor do que o resultado que se vê na tela. Quem sabe Mr. Aladeen renda mais em futuros esquetes de tevê.

O DITADOR

(The Dictator)

De Larry Charles. Com Sacha Baron Cohen. Comédia, EUA, 2012. Duração: 83 minutos. Classificação: 14 anos.Estreia sexta-feira no circuito (veja as salas e os horários no roteiro de cinema). Cotação: 2 de 5 estrelas