Zombeteiramente, a contribuição da Suécia para o cinema mundial são diretores de filmes que ninguém vê, mas muitos comentam, e atrizes de produções que muitos veem, mas poucos admitem.
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Agora, o país nórdico fornece enredo e cenário para um dos grandes thrillers do ano, baseado no bestseller do jornalista e escritor sueco Stieg Larsson (1954 – 2004): Os Homens que Não Amavam as Mulheres, que estreia hoje nos cinemas.
Em livro, Os Homens que Não Amavam as Mulheres tornou-se um dos maiores sucessos editoriais dos últimos tempos e é o primeiro da trilogia Millenium – toda ela devidamente adaptada pelo cinema sueco em 2009. O barulho em torno de Millenium assanhou Hollywood, que decidiu providenciar sua própria versão e chamou o diretor David Fincher (Clube da Luta, A Rede Social) para assumir a batuta.
E Fincher decidiu não correr riscos, sendo em parte fiel ao livro, em parte fiel ao filme original. Tão fiel que foi filmar na gélida Suécia, deixando como “recurso” hollywoodiano apenas o elenco, encabeçado pela novata Rooney Mara e por Daniel”James Bond”Craig – respectivamente a hacker Lisbeth Salander e o jornalista investigativo Mikael Blomkvist.
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Na trama,Blomkvist é contratado para procurar pistas do desaparecimento de Harriet Vanger, adolescente que sumiu há 40 anos e,desde então,virou obsessão para seu tio, o magnata Henrik Vanger (Christopher Plummer). Para auxiliá-lo, surge Lisbeth, uma perita em computação de visual punk, comportamento antissocial e passado obscuro.
Durante o percurso, a dupla vai descobrir que a neve branca que recobre o idílico cenário é inversamente proporcional ao lodo que envolve a árvore genealógica dosVanger.
Para não perder a graça de quem já leu o livro e viu o filme sueco, Fincher mudou sutilmente o final. Nada, no entanto, que tire o brilho de sua versão e impeça que as continuações sejam feitas.
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ATENÇÃO: CONTÉM ESPOILERS
Os textos abaixo trazem revelações sobre a trama do filme Os Homens que Não Amavam as Mulheres:
Filme x Filme
Enquanto a carga sexual é discreta no filme sueco, a versão americana tem pelo menos três tórridas cenas de sexo e muito topless – com direito a um ousado nu frontal-lateral de Rooney Mara. E David Fincher também é mais violento: não poupa o espectador na sequência de estupro de Lisbeth e sua posterior vingança. Já o visual de Lisbeth, até pelos detalhes estabelecidos por Stieg Larsson, não poderia ser muito diferente: corte de cabelo moicano que vira uma franja caindo até a metade do rosto estão presentes em ambos os filmes, bem como os piercings e tatuagens.A diferença, nesta última, é o tamanho: enquanto o dragão cobre as costas inteiras na versão sueca, na americana fica apenas em uma das omoplatas de Lisbeth. Uma diferença crucial, no entanto, é a presença da filha de Blomkvist no filme de Fincher. Ela é responsável por solucionar o primeiro grande mistério da trama – na versão sueca, é apenas citada.
Filme x Livro
Tal como na versão sueca,o diretor David Fincher decidiu enxugar a maior parte da gordura panfletária feminista que recheia o livro de Stieg Larsson,dando ênfase à sua boa estrutura policial.E Blomkvist não é o Don Juan escandinavo que Larsson pinta no papel,ficando restrito aos casos com sua sócia e,depois,Lisbeth. A curiosidade homossexual do vilão na sequência final é tratada com discrição por Fincher: nada de bolinação e beijo na boca entre homens como há no livro.O vilão também morre de maneira diferente do livro,capotando o carro em vez de colidir com um caminhão. Diferentemente do livro,o filme dá pouquíssimas pistas sobre o passado de Lisbeth,limitando-se a uma linha de diálogo entre os protagonistas já nos instantes finais.Já o desfecho do mistério central foi alterado por Fincher,deixando mais plausível: HarrietVanger não está escondida na Austrália,vivendo com novo nome, mas assumiu a identidade da prima que a ajudou a fugir 40 anos antes.