O vereador Ricardo Camargo Vieira, integrante da CPI dos Táxis de Florianópolis, estuda a possibilidade de apresentar um relatório paralelo sobre a investigação. Na entrevista ao DC, ele explica os motivos:

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Diário Catarinense – O senhor vai apresentar um relatório paralelo?

Ricardo Camargo Vieira – Se algumas questões não estiverem contempladas no relatório do vereador Tiago Silva, estou disposto a apresentar outro parecer, até porque os encaminhamentos da CPI tem que contemplar vários olhares.

DC – E qual é a sua leitura?

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Vieira – Essas irregularidades ocorreram com a anuência do poder público e tem acontecido desde a época dos governos Angela Amin e Dário Berger. Está claro que se busca um retorno eleitoral dessa relação entre o poder público e os permissionários.

DC – E quais são as provas?

Vieira – Os churrascos do Isaías (Isaías Gomes dos Santos é suspeito de administrar 60 placas de táxi na Capital), que recebeu políticos na casa dele. Muitos desses convidados, coincidentemente, foram secretários. Essa história toda começou lá trás, quando a prefeita Angela Amin foi entregar de mão em mão as concessões de táxi que ela validou pelo advento da Lei 085 e tudo isso foi paralelo a sua reeleição.

DC – Mas a lei é de 2001 e a reeleição foi em 2000…

Vieira – Mas o projeto (que regulamentou o serviço de táxi na Capital e deu placas de táxi aos 248 motoristas que trabalhavam na época) passou a tramitar em 1999, com a entrega de mão em mão em 2001. Em todas as eleições teve movimentação na Secretaria de Transportes, iniciada lá em 2000 e passando em 2004.

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DC – E não seria o caso de incluir essa informação no relatório que está sendo produzido pelo vereado Tiago Silva?

Vieira – Sim, já conversamos. E a intenção é que o relatório contemple a visão de todos os vereadores. Quero que isso esteja nesse relatório final, senão vou fazer um relatório paralelo.

DC – E o que o senhor ouviu dos outros vereadores?

Vieira – Eu já disse que temos que ter bastante zelo para não ter denunciação caluniosa, só que não podemos fazer com que esse zelo nos amarre. Não precisa dizer que esse ou aquele cidadão tem culpa porque fez isso e aquilo, mas temos de mostrar os indícios. Indiciar alguém é mostrar que há indício de irregularidade. Tem que ter isso…

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DC – E o relator e o presidente não concordam com esses argumentos?

Vieira – Nós ainda estamos negociando.

DC – Então ainda não há consenso?

Vieira – Não. Essa questão não é pessoal, é uma avaliação política…

DC – Com esse argumento de uso eleitoral, o relatório pode ganhar um viés político…

Vieira – Não, de maneira nenhuma.

DC – Mas o senhor está colocando uma questão eleitoral no relatório.

Vieira – Não. Não estou fazendo nada disso por conta de um olhar político ou por conta de uma inclinação política. Não estou fazendo isso porque fui oposição ao Dário ou porque na época da Angela um vereador do PCdoB era oposição.

DC – Os desentendimentos entre o senhor e o então vereador João Amin também não pesam nesta decisão?

Vieira – Não, nada a ver. Tenho um ótimo relacionamento com o João Amin. É simplesmente uma dedução a partir dos acontecimentos. Se você olhar, em todos os períodos eleitorais, tem movimentação no sentido das concessões de placas de táxi na Capital. Em todos.

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DC – E há provas?

Vieira – O depoimento do Isaías foi muito claro nesse sentido. Eu perguntei para o Isaías e para outros depoentes: como é a fiscalização no período eleitoral? E todos disseram: afrouxa, não existe fiscalização.

DC – Se o senhor realmente apresentar um relatório paralelo, o trabalho da CPI não é enfraquecido, não se perde?

Vieira – Não, de maneira nenhuma.

DC – Mas não mostra uma divisão entre os vereadores?

Vieira – Não. Mostra que existem visões diferentes, visões complementares sobre a mesma situação.

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DC – Mas também mostra que os vereadores não conseguiram se entender a ponto de colocar todas as visões num único relatório…

Vieira – Sim, é verdade. Mas se existe alguma visão complementar aquela que vai ser exposta num relatório, o Ministério Público tem que saber, não vou deixar de externar a minha interpretação e deixar de levar essa informação para o Ministério Público e até para a própria Polícia Civil. Não vou deixar de fazer isso…

DC – O senhor tem apoio de outros membros da CPI?

Vieira – Eu apresentei essa tese, que foi bem recebida e bem avaliada.

DC – O senhor já tem um pré-relatório pronto?

Vieira – Tenho. A cada depoimento, fui sistematizando as informações.

DC – O senhor não acredita que essa sua iniciativa pode acabar em briga?

Vieira – Eu penso que a gente tem que ser maduro o suficiente para isso não acabar em briga.

::: O que dizem os ex-prefeitos citados pelo vereador

Angela Amin (PP)

A ex-prefeita nega o uso eleitoreiro da Lei 85/2001, que nas palavras dela foi estudada, analisada e aperfeiçoada pelo Poder Legislativo. Fala ainda que está tranquila quanto ao trabalho realizado na época e observa que a CPI e a Justiça devem investigar a corrupção. Quanto as declarações do vereador Ricardo Vieira, garante que se vier a ser indiciada vai acioná-lo judicialmente.

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– Vou buscar meus direitos na Justiça (se for indiciada). Inclusive a atitude dele de tentar denegrir a minha imagem. O vereador vai ter que provar onde houve corrupção no meu governo. Ele tem que tomar muito cuidado com a história política dele. A minha, eu defendo.

Dário Berger (PMDB)

A reportagem ligou para o ex-prefeito, na noite de quarta-feira mas ele não atendeu.