Uma funcionária da Caixa Econômica Federal diz em depoimento à reportagem que foi assediada por Pedro Guimarães, presidente da instituição. Ela afirma ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio.

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Com receio de sofrer retaliação do comando do banco, a mulher pediu para ter sua identidade preservada -será chamada pelo nome fictício de Roberta neste texto.

Segundo ela, os assédios de Pedro Guimarães aconteciam diante de todos, dentro e fora da instituição. O caso foi revelado pelo portal Metrópoles na terça-feira (28), que relata a existência de uma investigação no Ministério Público Federal.

O caso narrado por Roberta ainda não chegou às autoridades. 

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— Não falei antes com medo e vergonha, e agora me sinto culpada porque penso que se tivesse falado antes, outras mulheres não teriam passado pelo que passei, nem por situações piores — afirma.

Roberta conta que, em uma ocasião, estava a sós com o presidente do banco, quando ele perguntou se ela “estava com ele”. A funcionária entendeu, à época, que a pergunta era em relação ao governo. Ela teria, então, respondido que sim.

— Aí quando fui sair, ele me puxou pelo pescoço e disse: ‘Estou com muita vontade de você’. Saí da sala, em choque e chorando — afirma ela. — Depois, em outro momento, ele já passou a mão pela minha cintura e foi abaixando, mas saí antes que piorasse.

Segundo a funcionária, Guimarães também tem hábito de dar “beliscões” em mulheres.

— As pessoas aceitam o abuso com medo da retaliação, do poder dele, isso é, perder a função. Ele te tira de uma posição de destaque, que você estudou e tem qualificação para estar lá, para te colocar numa função muito abaixo. Isso da noite para o dia, sem nenhum aviso — disse.

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Guimarães, além de presidente da Caixa, é próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos bastidores do governo, assessores afirmam que já chegou a pleitear a vaga de vice na chapa do chefe do Executivo.

Com a divulgação das acusações de assédio, integrantes do Palácio do Planalto dizem que sua permanência no governo se tornou insustentável. Aliados do presidente afirmam que o próprio Guimarães deve tomar uma atitude sobre o cargo. Apesar disso, minimizam o impacto que as denúncias têm sobre o projeto de reeleição.

Bolsonaro escolheu Daniella Marques, braço direito do ministro Paulo Guedes (Economia), para presidir a Caixa Econômica Federal no lugar de Pedro Guimarães.

Além de desgaste para o governo, traz danos à campanha de reeleição do presidente. Bolsonaro busca melhorar seu desempenho especialmente entre as mulheres, fatia do eleitorado em que tem alta rejeição.

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​> Presidente da Caixa deve ser substituído por Daniella Marques após acusações de assédio

Nesta terça-feira, diante da repercussão do caso, a Caixa cancelou evento que aconteceria na manhã desta quarta (29) com pronunciamento de Guimarães e uma coletiva de imprensa sobre o Ano Safra 2022/2023. A cerimônia foi realizada nesta quarta, mas apenas com funcionários do banco. Guimarães levou a esposa ao evento fechado e, em seu discurso, mencionou casamento, filhos e ética.

— Agradeço a minha esposa, de uma maneira muito clara. São 20 anos juntos, dois filhos, e uma vida inteira pautada pela ética — afirmou.

De acordo com o portal Metrópoles ao menos cinco funcionárias da Caixa acusam Guimarães de assédio sexual. Em um dos relatos, uma delas diz que uma pessoa ligada ao presidente do banco perguntou o que fariam “se o presidente” quisesse “transar com você?”.

Segundo a denunciante, ele estava na piscina e “parecia um boto se exibindo”. Além disso, funcionárias recebiam chamados para ir ao quarto de Guimarães, entre outros relatos.

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Procurado pela reportagem para comentar as denúncias, o presidente da Caixa não respondeu. Ao Metrópoles, o banco informou desconhecimento acerca das acusações.

*Reportagem de Marianna Holanda

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