Com o forte período de estiagem, sobretudo no mês de janeiro, a expectativa de produção de cana-de-açúcar para a safra 2014/15, cuja colheita começa a partir de abril, ainda é uma incógnita, segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
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Na atual safra, a 2013/14, que se encerra em março, a colheita deverá ficar em torno de 595 milhões de toneladas na região Centro-Sul do Brasil e quase 53 milhões de toneladas nas regiões Norte e Nordeste, segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica).
– O volume de cana (para a próxima safra) poderá ser bem maior, mas a produtividade deverá ser afetada – diz Rodrigues.
A consultoria Datagro, especializada no setor de açúcar e etanol, também ainda não fechou suas estimativas para a próxima safra. Para Plínio Nastari, presidente da empresa, o ciclo de baixa dos preços do açúcar – em torno de US$ 0,15 por libra-peso (a referência para a usinas é o contrato 11 da bolsa de Nova York) – deverá se encerrar no fim do ano. Se confirmado, deve dar fôlego à indústria.
De acordo com Rodrigues, da Unica, a nova safra deverá ter custos ainda maiores, uma vez que houve aumento do diesel e dissídio coletivo.
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– Estamos construindo internamente uma pauta do setor para discutir com os candidatos (à presidência) – afirmou.
Uma maior clareza sobre o que o etanol representa para a matriz energética do governo federal é a principal questão colocada entre os executivos, analistas e a Unica.
– O que está pendente no setor são medidas de longo prazo – disse Rodrigues.
Um dos problemas do etanol é que o preço não pode variar de acordo com os custos de produção, como acontece com a maior parte das commodities, diz Thadeu Silva, diretor do departamento de inteligência em commodities da consultoria IntlFCStone.
– O preço está travado junto com o da gasolina no Brasil – diz.
Uma saída para os produtores brasileiros tentarem ganhar produtividade seria o investimento em ganhos de produtividade, tanto nos canaviais quanto nas destilarias. O problema, segundo o especialista, é que a própria situação do mercado impede que esses investimentos sejam feitos:
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– É um momento difícil. As empresas não podem trabalhar para reduzir custos porque isso poderia elevar ainda mais suas dívidas.
Segundo ele, o Brasil está importando gasolina, enquanto poderia estar usando o etanol para suprir o aumento da demanda por combustíveis, que ainda cresce em ritmo chinês. Para Silva, a opção do governo de segurar os preços dos combustíveis é perigosa. Porém, liberar o preço do combustível pode disparar o gatilho para uma espiral inflacionaria, diz.
De acordo com Cid Caldas, diretor do departamento de cana-de-açúcar e agroenergia, do Ministério da Agricultura, o setor sucroalcooleiro não pode atrelar mais competitividade esperando um aumento do preço da gasolina.
No ano passado, o governo federal liberou uma linha de R$ 2 bilhões para financiamento de estocagem de etanol, mas as usinas pegaram R$ 1,4 bilhão do total. A outra linha, o Prorenova, para investir em renovação dos canaviais, dos R$ 4 bilhões, as usinas pleitearam R$ 2,4 bilhões.
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– No caso da linha de estocagem, o etanol era o produto de garantia. No caso do Prorenova, as usinas tinham que dar um ativo, o que talvez muitas não o fizeram por não estarem em condições para isso – disse.