Quando falamos de arte contemporânea, falamos de ruptura. Mas por acreditar já ter feito todas as quebras possíveis, para Fernanda Valadares então este é o retorno. Para isso, utiliza a encáustica – provavelmente a técnica de pintura mais antiga, que usa cera de abelha como base do pigmento – para compor as obras de À Beira do Vazio.
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Além de resgatar a ancestralidade, existe uma relação com o tempo por ser uma técnica durável. Como a cera encapsula os pigmentos, os quadros têm uma sobrevida maior, existindo um diálogo com a produtividade contemporânea ao propor um convite à desaceleração.
O primeiro momento da mostra é uma grande obra que ocupa toda uma parede. Imigração fala sobre o espaço vazio de quem migra. A artista mudou-se de São Paulo para o Rio Grande do Sul e quis dar forma ao não-pertencimento, materializando a estrada entre os dois Estados. O trabalho obriga o visitante a percorrê-lo, como se fosse o próprio caminho.
Há ainda obras que versam sobre espaços de museus em ângulos diferentes. Eles se apresentam sempre sem exposições ou peças para potencializar o sentido de vazio. Mas apenas a amplitude não satisfez a artista, que criou fissuras nas paredes para visualizar o que havia além daquelas linhas e planos, no horizonte.
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Por último estão expostos lençóis, que transitam na ideia de viagem, vazio e estrada. Porém, nessas obras ela não usa só encáustica, mas também a transferência fotográfica.
Análise de Fernando Boppré
>> A artista coloca presença, concretude em paredes e ângulos, mas tira tudo ao não ter uma única pessoa representada. É como se fosse algo monumental, mas em ruínas. Dialoga com a nossa vida contemporânea.
>> Anacronismo: ela junta uma técnica arcaica com um modo de pintar contemporâneo. Os quadros são quase uma abstração, mas são figurativos quando trazem elementos arquitetônicos.
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>> A exposição é ao mesmo tempo leve e densa. Leve porque usa uma técnica de pintura que demanda tempo e paciência; densa ao considerar o tamanho dos quadros e a força necessária para manuseá-los.
Agende-se
O quê: primeiro ciclo do edital de Exposições Temporárias do Masc, com Tellus, de Betânia Silveira (SC); E o Silêncio Nagô Calou em Mim, de Denise Camargo (DF), À Beira do Vazio, de Fernanda Valadares (RS); e Desiderium, de Rosana Mariotto (SP)
Quando: até 23 de novembro. De terça a sábado, de 10h as 20h30min; domingos e feriados, das 10h as 19h30min
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Onde: Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), no CIC (Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica, Florianópolis)
Quanto: gratuito
Informações: (48) 3664-2630