"Todos os estilistas devem ter saído de férias." "Parece que ela se perdeu do estilista." Esses foram alguns dos comentários feitos no Twitter enquanto os usuários assistiam à premiação do Globo de Ouro no início de janeiro e aplaudiam ou criticavam as roupas que seus artistas prediletos escolheram para o tapete vermelho.

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Afinal, todo mundo sabe que poucas pessoas que fazem aparições públicas em Hollywood decidem sozinhas o que vão vestir. Em vez disso, contam com a ajuda de profissionais que ficam cada vez mais famosos por seu trabalho, que consiste em aconselhar qual é o melhor visual para as diferentes cerimônias de premiação, protegendo-as – ao menos em teoria – das gafes mais vergonhosas. (Pena que essa seja só a teoria.)

Além disso, essas pessoas ajudam a resolver os dilemas físicos que assombram até mesmo as pessoas mais esbeltas e firmes. O que nem todo mundo sabe é que essa prática se espalhou por todas as áreas que exigem aparições públicas e pode ser um dos setores que mais vão crescer nos anos 2020.

"Devido à tecnologia, o tempo se tornou um bem ainda mais valioso", explicou Brooke Wall, fundadora do Wall Group (que agora pertence ao enorme conglomerado de esportes e entretenimento Endeavor, antigamente conhecido como WME IMG). Wall foi uma das primeiras pessoas a ver que o setor tinha potencial comercial.

"Vivemos cercados por tantos produtos que é difícil saber o que escolher. Até a roupa de baixo ficou complicada! Enquanto isso, as pessoas tiram fotos com o próprio telefone aonde quer que vão. Por isso, é preciso tecer uma narrativa pessoal – demonstrando que você é uma pessoa conservadora, criativa, tanto faz – a partir do momento em que você se torna publicamente reconhecível."

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Por essa razão, existem estilistas especializados em todos os tipos de personalidade pública: primeiras-damas, jogadores de basquete, influencers que participam da Coffee Run, membros da família real. E até mesmo pilotos da NASCAR e jogadores desconhecidos da NFL.

Um bom exemplo é Erica Hanks, de 42 anos, que estabeleceu sua base de poder em Charlotte, na Carolina do Norte, muito longe de capitais da moda, como Nova York e Los Angeles. Hanks era estilista de revistas e tem um ar maternal e agitado, longos cabelos castanhos e uma predileção por Dries Van Noten. Ela chegou a Charlotte em 2006 com o marido e os filhos e sentiu que tinha uma oportunidade.

Isso foi um ano depois que Wall abriu sua empresa em Hollywood. E, embora a demanda por ajuda na hora de se vestir tenha surgido na terra dos filmes, ela logo se espalhou pelo mundo dos esportes.

Não demorou muito para que os jogadores de basquete saíssem do vestiário como se estivessem indo para a passarela. Os novos contratados da NBA e da NFL passaram a ser conhecidos tanto pelas poses no tapete vermelho como pela entrada para o time titular. Nomes como Russell Westbrook criaram suas próprias linhas de produtos de moda, e Victor Cruz e Odell Beckham Jr., entre outros, começaram a explorar os melhores "looks" com estilistas como Rachel Johnson (Cruz) e Jason Rembert (Beckham).

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Hanks, que se mudou para a cidade que é sede do Hall da Fama da NASCAR e dos Carolina Panthers, se perguntou por que os atletas da região não deveriam ter uma oportunidade similar. Atualmente, Hanks trabalha com clientes como Trai Turner, Captain Munnerlyn e Graham Gano, do Panthers; Thomas Davis e Melvin Ingram, do Los Angeles Chargers; e pilotos da NASCAR como Martin Truex Jr., Kevin Harvick, Kyle Larson e Clint Bowyer. (Cam Newton, que talvez seja o jogador do Panthers mais conhecido pela escolha das roupas, trabalha em parceria com Rachel Johnson.)

Hanks também acaba de firmar um contrato para ajudar a vestir os 28 narradores e comentaristas da NASCAR no Fox Sports, em sua maioria ex-pilotos. Ela também atende mulheres, mas geralmente são clientes particulares.

De muitas maneiras, os atletas têm desafios físicos mais complicados que os atores. Devido à sua profissão, eles raramente vestem tamanho padrão – os jogadores da NFL são muito grandes, enquanto os pilotos são bem pequenos. Larson, por exemplo, tem 1,42 metro de altura, pesa 61,2 quilos e tem 71 centímetros de cintura. Já Turner tem 1,90 metro de altura, pesa 145 quilos e tem mais de 106 centímetros de cintura. Essas pessoas exigem tamanhos que vão do PP ao GG.

Além disso, cada especialidade profissional tem exigências específicas. Nos times de futebol americano, os artilheiros geralmente têm uma perna maior que a outra, conta Hanks. (Gano prefere sapatos justos, não importa a ocasião.) Os pilotos costumam ter um ombro mais baixo – o esquerdo, mais usado para fazer as curvas da pista.

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Para piorar a situação, os atletas passam boa parte da vida usando roupas de ginástica e uniformes e, quando precisam escolher as próprias roupas, não têm experiência nem tempo para conhecer os próprios gostos.

Além disso, cada esporte tem uma estética própria. Pilotos da NASCAR costumam ser "muito conservadores", disse Hanks. Quando se vestem para o baile de gala da NASCAR, realizado em dezembro, costumam preferir Saint Laurent (Larson) e Zegna (Bowyer).

Quando disse isso, Hanks estava na alfaiataria nova-iorquina Alton Lane, tentando convencer Jeff Gordon, três vezes vencedor da Daytona 500, membro do Hall da Fama da NASCAR e comentarista do canal Fox, a pensar em um forro mais experimental para a jaqueta que vai usar durante as transmissões. Eles estavam olhando sedas com diferentes estampas, incluindo carros e caveiras.

Gordon não queria saber daquilo. Não queria nem um lenço para o bolso. "Por favor, por favor!", suplicou Hanks. Gordon balançou a cabeça. "Não sou como esses caras da NFL, sou mais tranquilo", disse.

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Hanks disse que "esses caras da NFL" costumam preferir estilos como Gucci, Virgil Abloh da Louis Vuitton e Kim Jones da Dior, que já foram contratadas para fazer roupas sob medida para seus clientes. As marcas são muito compreensivas, afirmou a estilista.

O que virá em seguida? Jogadores de hóquei? Hanks não vê problemas nisso.

Na verdade, ela e Wall concordam com Karla Welch, uma estilista representada pelo Wall Group que também tem uma empresa de produção e começou a fazer colaborações de design. Segundo ela, estamos nos aproximando cada vez mais de uma época em que os estilistas "prestarão um serviço comum, como o Wi-Fi ou a entrega de alimentos". Um serviço ao qual todos deveriam ter acesso, se quisessem.

(Welch é conhecida por trabalhar com Ruth Negga, Sarah Paulson e Megan Rapinoe, a quem Welch ajudou a trocar o uniforme do time de futebol por um vestido Gucci para o evento Mulher do Ano, da "Glamour".)

Por isso, Welch se tornou proprietária e diretora criativa do Wishi, um aplicativo criado inicialmente por Clea O'Hana para obter dicas de moda com a ajuda dos usuários. O aplicativo foi reinventado nas mãos de Welch e agora oferece conselhos de estilistas profissionais aos usuários.

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Os assinantes podem escolher entre conselhos simples para um evento específico e assinaturas mensais que permitem que os estilistas aprovados por Welch tenham acesso ao seu armário. O aplicativo foi baixado 200 mil vezes desde que foi disponibilizado em setembro do ano passado, de acordo com a empresa. "Gostaria de democratizar esse serviço, que lida com tempo, ajuda e acesso", explicou Welch.

Pode-se questionar o que significa termos chegado a um ponto em que o tempo e a confiança em nosso próprio gosto se tornaram mercadorias valiosas, e se realmente se trata de um avanço quando estamos dispostos a terceirizar nosso estilo pessoal.

Mas, quando se trata do tapete vermelho, não há dúvida de que é muito bom contar com um pouco de ajuda. Em breve nos lembraremos disso: entre agora e a cerimônia do Oscar, no dia 9 de fevereiro, diversos eventos serão realizados, incluindo o SAG, o BAFTA, o Critics' Choice e o Grammy.

Sem falar no Super Bowl.

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