Como em um quebra-cabeça, Sara Fernanda, 24 anos, vai juntando os pequenos retalhos. A estilista blumenauense compra as sobras de tecido que não servem mais para as grandes empresas. No computador do quarto, junta os pedaços coloridos com criatividade e então surgem as novas peças. Há seis meses, ela se encorajou e decidiu transformar o material que iria para o lixo em moda, na versão sustentável.
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– Após sete anos trabalhando em grandes empresas do setor têxtil, me despertou a vontade de inovar no mundo da moda, de fazer diferente e melhor. Foi neste momento que começou um intenso preparo para poder chegar onde estou – conta Sara.
As peças são exclusivas e resultado de muita conversa. Sara faz os desenhos, depois passa as orientações para as duas costureiras. Não é uma produção em grande escala, são feitas 10 peças por dia, em média. Os modelos são fotografados e depois vão parar nas redes sociais. O negócio é fechado pelo celular e a cliente recebe a roupa em casa. Se precisar de um ajuste, elas se encontram.
– O público comprou a ideia sustentável, reaproveitando tecidos que seriam descartados – diz.
Os valores são baseados no tripé da qualidade, exclusividade e sustentabilidade. Ela apresenta a empresa, ainda embrionária dentro de apartamento no bairro Itoupavazinha, como uma iniciativa com foco no consumo consciente. O combustível para investir no sonho? A inquietude por novas tendências aliada a sustentabilidade.
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Um trabalho que deu certo
Se para a Sara a reutilização de materiais ainda é um campo a ser desbravado, a gasparense Ana Knuth comprova que esse é um caminho para o sucesso e para a preservação ambiental. Ela criou uma marca que também utiliza sobras de tecidos na confecção das peças. O trabalho começou em 2015 e atualmente ela vive disso. Mesmo formada em arquitetura, a jovem de 27 anos sempre esteve dentro do universo da moda. A família chegou a ter uma confecção com 60 funcionários. Ela acompanhava os pais na compra dos materiais e via as sobras.
– Eu ia junto comprar malhas e via muita venda de saldos com estampas legais, mas que era uma quantidade pequena, porém, ainda dava para usar em uma ou outra peça – recorda.
Os primeiros itens foram confeccionados para ela mesma, mas as amigas compraram a ideia que se tornou um negócio.
– No começo elas gostavam porque achavam as peças bonitas, exclusivas praticamente, mas hoje elas já entendem a importância da sustentabilidade – explica.
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A preocupação das estilistas não é à toa. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que o Brasil descarta anualmente algo em torno de 175 mil toneladas de sobras do setor têxtil. Estima-se, ainda, que 60% desse montante vai parar em aterros sanitários e, dependendo do tipo de material empregado, pode levar anos para ocorrer o processo de decomposição. Apenas 40% de tudo aquilo que seria descartado ganha um novo destino nas mãos de profissionais como Sara e Ana.
Formada em moda e mestranda em desenvolvimento regional, Mariane Paduan Florsz, diz que essa é uma tendência em ascensão no Vale do Itajaí.
– Se a gente pensar o tanto que a moda é poluente, o tanto que ela precisa, em termos de produção, de recursos não renováveis e renováveis para a confecção dos itens, qualquer coisa que venha na contramão e tente de alguma forma melhorar minimamente esse impacto é importante – argumenta Mariane.
Colaborou Marina Dalcastagne, repórter da NSC TV