O estilista de Alta-Costura Gustavo Lins, que vive na Europa há 25 anos, sonhava em trabalhar em seu Brasil natal e agora vai conseguir isso graças a um acordo com o Estado de Minas Gerais para formar milhares de jovens na indústria da moda.

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– Fechamos um convênio com a Federação de Indústrias de Minais Gerais (FIEMG), que reúne o setor têxtil, a agroindústria, a indústria automobilística, a energética e aeronáutica, para formar jovens no setor de moda – declarou à AFP o único estilista da América Latina a fazer parte do exclusivo grupo da Câmara de Alta-Costura da França.

– O Brasil enfrenta um verdadeiro problema de qualificação de mão de obra no setor têxtil e de confecção, o que impede o desenvolvimento dessas indústrias – explicou Lins em uma entrevista e seu ateliê no bairro do Marais.

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O país é um grande produtor de matérias-primas, como a seda, mas não é competitivo no mercado mundial, apesar de ter tudo para isso, acrescentou o estilista, que nasceu em Minas Gerais há 50 anos.

– O Brasil é o terceiro produtor de seda do mundo, atrás da China e da Índia. Mas exporta muitos poucos produtos têxteis elaborados, pela falta de qualidade, e a um preço muito elevado, não competitivo – explicou, enquanto dava os últimos retoques em sua coleção de Alta-Costura, que vai apresentar na próxima semana em Paris.

O convênio fechado pelo estilista com a Federação de Indústrias do Estado de Minais Gerais tem como objetivo apoiar a formação de jovens para trabalhar no setor têxtil e da moda.

– A meta é formar trabalhadores bem qualificados que podem ajudar a desenvolver essas indústrias, a fazê-las competitivas – disse o estilista, que pela primeira vez vai apresentar suas criações na Embaixada do Brasil em Paris.

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O programa de formação, que começará em meados de fevereiro, é dirigido aos jovens de famílias pobres que saem do colégio e vão direto trabalhar nas indústrias.

– São jovens desfavorecidos, não de famílias ricas, que trabalharão na indústria têxtil e da moda em Minais Gerais.

A missão de Lins, que estudou arquitetura no Brasil e em Barcelona, antes de transferir para o universo da moda sua busca pela construção e a pureza das linhas, será formar professores, a quem vai ensinar corte, confecção e conceitos da costura francesa, adaptando-os a temas e enfoques brasileiros.

– Formarei primeiro 30 professores, que formarão por sua vez cerca de 300 alunos por promoção – disse o estilista, explicando que o objetivo é capacitar, entre 2012 e 2014, cerca de 3 mil jovens.

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– Quero dar a eles o ‘know how’ que eu tive trabalhando em algumas das grandes maisons francesas – como Louis Vuitton, Kenzo e Jean Paul Gautier, concluiu o estilista, que em sua última coleção elevou a reciclagem ao nível de arte, utilizando retalhos de tecidos que seriam desperdiçados em seu ateliê, transformando-os em vestidos leves e voluptuosos.