Santa Catarina atravessa desde meados de 2019 um dos maiores períodos de estiagem prolongada da história. No ano passado, faltou chover 900 milímetros no Meio-Oeste catarinense para que a média histórica fosse atingida, e no Extremo Oeste choveu cerca de 700mm a menos do que o esperado para o ano.

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Tal cenário traz grande impacto na produção agrícola de Santa Catarina e reflete até mesmo no bolso dos consumidores, em todo um ciclo afetado pela falta de chuva. Com modelos climáticos que indicam um futuro próximo de aquecimento e chuvas cada vez mais espaçadas e irregulares, especialistas apontam a necessidade de medidas práticas e de um plano de ação conjunto para que os efeitos da seca sejam amenizados em Santa Catarina.

Pesquisador da Escola de Recursos Naturais da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, o professor Donald Wilhite estuda há anos a gestão da seca no Brasil e palestrou na última semana para um público da região Sul. O evento foi promovido do Consulado Geral dos EUA em Porto Alegre, com apoio dos governos estaduais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC). Na apresentação, o pesquisador destacou a necessidade de fazer a gestão de risco da estiagem em SC, não apenas gerenciar as crises em andamento.

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Em entrevista exclusiva ao Diário Catarinense, Wilhite afirma que o governo precisa fazer análises de vulnerabilidade da agricultura, para entender onde estão os riscos e quais são eles diante de uma estiagem prolongada como a atual. Com mais informação, o passo seguinte é encorajar produtores rurais a adaptar práticas que reduzem impactos e riscos.

– Ações de mitigação são aquelas implementadas antes da seca e que irão reduzir os impactos quando a estiagem ocorrer. Os agricultores precisam se adaptar às mudanças climáticas por meio da adoção de uma série de medidas. Isso pode incluir uma mudança nos tipos de cultura ou variedades nas plantações, mudanças nas datas de plantio e colheita, práticas de fertilização, expansão da irrigação, entre outras ações – explica o pesquisador.

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Donald A. Wilhite é professor e diretor emérito de ciências climáticas aplicadas na Escola de Recursos Naturais da Universidade de Nebraska-Lincoln, EUA
Donald A. Wilhite é professor e diretor emérito de ciências climáticas aplicadas na Escola de Recursos Naturais da Universidade de Nebraska-Lincoln, EUA (Foto: Universidade de Nebraska)

“Monitoramento e previsão são apenas parte da solução”

Em um Estado acostumado a fenômenos climáticos extremos como Santa Catarina, as ferramentas de monitoramento e previsão do tempo foram aprimoradas na última década e trazem informações precisas para a tomada de decisão. Para o professor Wilhite isso é parte importante do combate aos efeitos da estiagem, mas não pode ser a única arma.

– Alertas adiantados sobre as condições de seca permitem que agricultores modifiquem práticas no campo apropriadamente, desde que eles tenham o conhecimento e as ferramentas necessárias. As informações fornecidas aos agricultores devem ser desenvolvidas em conjunto com a comunidade rural para refletir as necessidades e o tempo exato em que isso será útil – avalia.

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O pesquisador explica que o fenômeno El Niño ajuda a explicar parte da estiagem em Santa Catarina, mas outros fatores também influenciam. Nas palavras do especialista, “secas se alimentam delas mesmas”, com o efeito de uma estiagem favorecendo a próxima em um círculo vicioso:

– Secas não ocorrem em ciclos, mas são parte normal do clima. Eventos como o El Niño ocorrem, geralmente, em intervalos entre três, cinco ou sete anos, mas não são cíclicos. Para a região Sul do Brasil, provavelmente existem outros fatores envolvidos.

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Previsão de chuva abaixo do normal permanece

Segundo o meteorologista da NSC, Leandro Puchalski, o outono em Santa Catarina deve ter chuva abaixo do normal. O assunto foi abordado no último Fórum Climático Catarinense, com previsões para os meses de abril, maio e junho.

Com a situação persistindo após meses de chuva abaixo do esperado, a situação de alguns rios em Santa Catarina já é delicada e sem a expectativa de melhora em breve. Desta forma, além da agricultura há também impacto no abastecimento de água, especialmente no Oeste catarinense.

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Conforme o último aviso hidrológico divulgado pela Epagri/Ciram, na sexta-feira (16), ao menos 11 cidades de Santa Catarina estão com rios em situação hídrica extrema, em estado de emergência ou alerta por causa da estiagem. No ano passado, alguns rios menores pelo Estado ficaram secos pela primeira vez já registrada.