Osemáforo fecha e todos continuam com o pé no acelerador. O motociclista passa entre os carros e leva consigo alguns retrovisores desviando de bicicletas, carroças e pedestres que, em meio ao trânsito quase caótico, sem papas na língua acenam para o motociclista afoito e dizem:

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– Oh carudo, volta aqui! Visse o que tu fez?

Lá se vai o infrator, enquanto meia dúzia de pessoas se reúne para ajudar a juntar os retrovisores no chão.

Os passos nas calçadas também são apressados e o comércio tem ânsia de vendas. Lá sempre tem promoção, é importante vender, fazer o dinheiro girar. Placas iluminadas e vitrines coloridas são responsáveis pelo design que só não chama mais a atenção do que o cheirinho de comida que aquela rua tem.

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Essa atmosfera pulsante é marca da principal rua do bairro São Vicente, a Estefano José Vanolli. Quem observa o local com forte comércio e em crescente expansão mal consegue acreditar que sua trajetória rumo ao desenvolvimento, assim como a do bairro, o segundo mais populoso da cidade, é recente.

Até a década de 70 só se conseguia acesso ao bairro através de uma pinguela de madeira ou pela bateira do Miguel, um senhor que fazia a travessia dos moradores na embarcação. O nome do bairro, inclusive, só virou São Vicente depois, por causa da capela construída em 1955. Naquela época, ali era mesmo o Vassourão, devido à abundante vegetação que havia na região e era propícia para a produção de vassouras caseiras.

Com a construção da ponte o processo de urbanização se intensificou. Terrenos baratos fizeram com que conjuntos habitacionais se instalassem naquela região. Embora os principais imóveis fossem destinados à população de baixa renda, as pessoas começaram a perceber que ali existia grande chance de desenvolvimento.

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Gustavo é o típico morador do bairro. Nascido e criado no mesmo endereço, fez ali seu círculo de amizade, frequentou a escola perto de casa, ensaiou os primeiros romances, comprou o primeiro carro, rebaixou e foi passear na Estefano com o som no último volume e agora vai realizar seu grande sonho, ter o próprio comércio, uma loja de suplementação alimentar. O local, claro que não poderia ser outro, a Estefano:

– Escolhi a rua porque não existe lugar na cidade melhor para o comércio. As pessoas saem do Centro para vir comprar aqui.

Vida noturna agitada

Está enganado quem pensa que a movimentação da rua ocorre somente em horário comercial. À noite a Estefano ganha outra cara e vira o ponto de encontro da comunidade. Grupos de amigos reúnem-se nas esquinas, fazem uma roda, colocam o litro de alguma bebida no meio e ficam ali noite afora batendo papo.

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Daniella Antônio, de 18 anos, conheceu seu namorado em um destes rolezinhos. Há três meses ela estava em um grupo de pessoas quando ele chegou para falar com um dos seus amigos, trocaram olhares, conversaram e continuaram indo todos os dias na Estefano para se ver, até que engataram um namoro.

Ao perceberem a grande movimentação noturna, muitos carrinhos de lanches estacionaram por ali. Alguns mobilizam pessoas a atravessar a cidade para degustar as delícias, como é o caso do cachorro-quente em frente à loja Antônio Bittencourt que

todos os dias têm fila.

Quem busca algo mais refinado também encontra opção na noite do bairro. Pizzarias gourmets garantem espaços aconchegantes e gastronomia de excelente qualidade. Tem restaurante com som ao vivo para atrair o público. O japonês e a tradicional sorveteria, que recebe tanto o pessoal do rolê quanto os evangélicos da igreja Assembleia de Deus que fica em frente ao local.

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Para os pés de valsa a Estefano ainda oferece o bar dentro do shopping São Vicente, com música ao vivo e pista de dança – ao desavisado, sugere-se apenas pesquisar o motivo de o local ser apelidado de “desmanche”.