Um rosto tem muitas histórias para contar. Que o diga João Barba Neto, 50 anos, responsável por restaurar o Manneken Pis (também conhecido como Manequinho), estátua que há 48 anos enfeita o Horto Botânico Edith Gaertner, nos fundos do Museu da Família Colonial de Blumenau. O chafariz inaugurado em 1967 pelo escultor Miguel Barba, que morou na cidade por 12 anos, mostra a figura nua de um menino urinando. E a criança ali esculpida é o próprio João, que na época serviu de modelo para a obra do pai.
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– Eu era bem criança quando posei para esse trabalho, acho que tinha uns três anos. Tenho fotos da minha infância e ao fazer essa restauração percebi que ele me retratou de forma bem fiel, até o cabelo ficou igual ao que eu tinha – comenta João, arquiteto por formação.
Sylvio Zimmermann, presidente da Fundação Cultural, conta que a estátua foi feita de maneira provisória nos anos 1960. A ideia inicial de Miguel era já reproduzir na época o Manneken Pis em bronze – desejo que só foi atendido este ano. O trabalho orçado em R$ 8 mil levou três meses para ficar pronto e será oficialmente apresentado ao público nesta quinta-feira, às 10h30min, em uma solenidade especial. Flores serão plantadas ao redor da estátua e a original, feita de cimento branco, será mantida no acervo do Museu de Arte de Blumenau (MAB).
– Tenho muito carinho pelas obras públicas da cidade, e acho que temos que ter esse cuidado com o patrimônio que nos cerca. Com essa restauração conseguimos realizar um sonho antigo. Além disso, o bronze é um material fácil de ser preservado: bastam água e sabão – comenta Zimmermann.
O Manneken Pis não mora somente em Blumenau. O monumento é um dos mais famosos de Bruxelas, na Bélgica, e tem uma cópia também no Rio de Janeiro, em frente à sede do Botafogo de Futebol e Regatas. A obra original foi produzida em 1619 pelo artista François Duquesnoy e é cercada por lendas. Uma das versões conta que, no final do século 12, o filho de um duque foi encontrado urinando contra uma árvore no meio de uma batalha, e então eternizado numa estátua de bronze como símbolo da coragem militar do país.
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– Depois da morte do meu pai (em 2008), comecei a mexer mais com arte, tanto que herdei as ferramentas e o espaço dele. Mas não me considero artista. O artista era ele, eu sou só um aprendiz – finaliza João.