Se a escalada da violência em Santa Catarina fosse acompanhada por um relógio, a quantidade de crimes cometidos daria ritmo acelerado ao giro dos ponteiros. A cada quatro minutos, por exemplo, algum pertence é furtado no Estado. A cada hora, ao menos um flagrante de tráfico de drogas é descoberto e duas pessoas são vítimas de assalto. Uma mulher é violentada sexualmente a cada três horas, em média, enquanto uma pessoa é assassinada a cada oito horas.
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Os números espelham estatísticas da Secretaria de Segurança Pública (SSP/SC) nos primeiros seis meses deste ano. Ocorrências como furtos, tráfico e violência sexual cresceram na comparação com o mesmo período do ano passado. Assaltos e latrocínios tiveram queda. Mas a maior preocupação da sociedade e das forças de segurança do Estado, os homicídios, têm taxas que superam ano após ano os próprios recordes negativos.
Foram 529 casos de assassinato entre os últimos meses de janeiro a junho. Nunca Santa Catarina somou tantas mortes em um primeiro semestre. A conta não considera as ocorrências de confronto policial nem latrocínios. Dados da SSP/SC mostram que a proporção de homicídios forma uma curva crescente desde 2014. Cidades como Florianópolis e Joinville concentram a maioria dos casos e, como consequência, impulsionam as estatísticas estaduais.
A Capital somou, nos seis primeiros meses do ano, mais mortes do que historicamente havia registrado em anos inteiros. Na visão do comando da Polícia Militar, tratam-se de ¿desvios de curva¿ nas estatísticas, um fenômeno que se reflete a partir da disputa territorial entre facções criminosas. O comandante-geral da PM em SC, coronel Paulo Henrique Hemm, reconhece que a polícia já não consegue mais fazer o trabalho preventivo como deveria e se dedica quase completamente à atuação repressiva.
A observação tem respaldo nos números. Houve mais de 15 mil detenções no primeiro semestre deste ano, um recorde entre os períodos analisados. A conta da PM, que considera todas as conduções à delegacia, aponta uma marca até quatro vezes maior. Estatísticas oficiais também mostram um volume recorde de apreensões de adolescentes entre janeiro a junho: pelo menos mil adolescentes foram retirados das ruas por cometimento de atos infracionais.
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A polícia ainda recolheu mais de 1,8 mil armas no primeiro semestre, ou seja, cerca de 10 por dia.
—Significa que a polícia nunca trabalhou tanto. Os dados estão aí para comprovar. Fala-se em reforma política, tributária, mas não vejo a reforma criminal discutida. Uma legislação que venha ao encontro dos aplicadores da lei e, principalmente, da comunidade. Nesse aspecto, quem está desassistido é o cidadão — diz o coronel Hemm.
Números da violência também sugerem que a atuação policial não basta para conter a criminalidade. Apesar de concentrar o maior efetivo das tropas policiais e de executar o maior número de prisões e de apreensões de armas, Florianópolis lidera as estatísticas de assassinatos, furtos, roubos e tráfico. Neste último, a Capital teve mais ocorrências durante os seis primeiros meses deste ano do que as cidades de Joinville, Itajaí e Criciúma juntas.
O que acontece nas ruas tem impacto direto no sistema prisional da Grande Florianópolis. Já superlotadas, as cadeias da região estão sujeitas a interdições judiciais que limitam a entrada de presos nas unidades. No último mês de julho, a administração do sistema prisional chegou a cancelar a condução de presos às audiências de custódia em Florianópolis sob a alegação de falta de vagas. O problema só foi resolvido porque a Justiça permitiu a ampliação de 50 vagas temporárias no Complexo Penitenciário da Capital.