Há uma instituição nacional que é exclusividade dos brasileiros. Chama-se Estaremos Fazendo. Em outros lugares isso seria compromisso futuro. Aqui, é o tapa furo. O Estaremos Fazendo é a variante que, para o emissor, significa “tudo bem, para de encher-me” e, para o receptor, “finja que faz e eu finjo que acredito”.

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O tupiniquim é o povo mais generoso do mundo. Todos querem cumprir com sua parte. Quando alguém bate na casa de um tupiniquim pedindo R$ 5 para o leitinho das crianças, este coloca a mão na carteira e retira uma nota de cinco. Depois, volta para assistir a TV e fala para a mulher: “Fiz minha parte”. Se ela questionar sobre o destino daquele dinheiro, o tupiniquim responde: “Bom, fiz minha parte.” E se ela sugere que o melhor, já que o indivíduo pretendia comprar leite, era dar-lhe uma das 14 caixas que há na despensa, ele responde: “Bom, a minha parte eu fiz”. E troca de programa com o controle remoto.

Quando um tupiniquim pretende contratar uma TV por assinatura, ele ouve do outro lado da linha: “É pra já.” Agora, quando ele estiver de saco cheio por este serviço não funcionar e pedir uma visita técnica, a resposta é “estaremos fazendo”. Ele aguardará por alguns dias, até se irritar. Ligará para cancelar a assinatura. Então ouvirá: “Estaremos cancelando”. E, assim, ele “estará fazendo pagamentos” e assistindo a TV.

Se o tupiniquim encontra dinheiro no chão, o apanha e guarda, afinal, se não o fizer, outro o fará. Se pescar um peixe proibido, ele o guardará, afinal, melhor ser ele do que outro. Se ajeitar a bola com a mão e o juiz não perceber, fará o gol, pois se não fizer certamente o centroavante do time adversário o fará.

Para intervir na instituição do Estaremos Fazendo talvez tenhamos que imigrar para o Japão, ou então para o Guarani, que é o país que morava aqui antes de o Brasil chegar. Fora isso, penso que não “estaremos fazendo” nossa parte nem antes, nem durante e nem depois de assistir a TV.

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