À frente da Secretaria de Saúde de Joinville desde julho de 2015, Francieli Schultz começou 2017 com a missão de também administrar o Hospital Municipal São José. Desta forma, é ela a responsável pela área mais problemática da gestão municipal: além da parte que cabe ao município, em serviços de atenção básica à saúde, também opera um serviço de média e alta complexidade que atende a muito mais do que a população joinvilense e consome boa parte dos custos do orçamento da Saúde: são R$ 15 milhões por mês só para o São José.

Continua depois da publicidade

Francieli agora divide a rotina em turnos: de manhã, trabalha no São José; à tarde, fica no prédio da Secretaria de Saúde. Ela assume mais uma responsabilidade, mas também delega melhor, já que as estruturas administrativas, tanto da secretaria quanto do hospital, foram modificadas para descentralizar as responsabilidades.

Em entrevista, Francieli fala sobre os principais problemas e as metas para melhorar o atendimento na Saúde em Joinville:

Gestão

A Secretaria da Saúde tinha uma estrutura muito enxuta, era um secretário, um diretor e seis gerentes para cuidar de 3.800 servidores. Era uma estrutura muito enxuta e, na verdade, a gente conseguia planejar pouco – mais apagava incêndios do que planejava. Com a reestruturação, pudemos, a exemplo do que já é feito em outras secretarias do Estado e do Brasil, dividir a secretaria em três grandes áreas: a média e alta complexidade, a atenção básica e a administrativo-financeira.

Continua depois da publicidade

E o hospital não tinha um organograma muito horizontalizado: era um diretor executivo que tinha que entender de tudo, de medicina e enfermagem ao processo de licitação, e isso não existe em lugar nenhum. Em nenhuma empresa há uma pessoa que precisa saber tudo sobre tudo. A decisão foi horizontalizar o organograma para que a gente pudesse ter um diretor-administrativo, um de enfermagem (na gestão de leitos) e um diretor técnico, que é quem terá o relacionamento com os médicos. Essa reestruturação vai proporcionar que a gestão seja mais profissional.

Custos do Hospital São José

Hoje, o custo do Hospital São José é de, mais ou menos, R$ 15 milhões por mês. O Ministério custeia R$ 4 milhões do custo efetivo do hospital. A folha gira em torno de R$ 10 milhões a 11 milhões, que vêm 100% de recursos do município. Para amenizar isso, a gente vai começar a buscar habilitações na União, por exemplo, no caso da residência. Precisamos retomá-la e buscar em Brasília os recursos. Para isso, precisamos do apoio da bancada catarinense no Senado, dos deputados federais, para pressionar no ministério e liberar a habilitação do hospital de novo. Da mesma forma, a habilitação de leitos. Vamos trabalhar com habilitação de serviço na plataforma do ministério, porque não virá mais dinheiro.

O Estado já disse que não irá assumir, embora tenhamos esperança, porque o município acabou assumindo um serviço de média e alta complexidade que é de responsabilidade do Estado. O Estado repassa R$ 22 milhões por mês na Saúde de Joinville, quando sustenta o Regional, a Maternidade (Darcy Vargas)e o Infantil, mas o município sustenta R$ 32 milhões. Se cada ente (União, Estado e município) tem que custear um terço, então a conta está errada. A gente não diz que o Estado não contribui, mas contribui menos do que deveria. É um investimento pesado em saúde, saindo do bolso do joinvilense, atendendo a uma região de 1,3 milhão de pessoas. Então, é um hospital com abrangência regional, e a gente precisa do apoio do Estado.

Otimização de estruturas

Tem muita coisa que a gente podia otimizar e não conseguia por estar em duas estruturas separadas. Por exemplo, nós temos o Laboratório Municipal, que é da rede, e o laboratório dentro do Hospital São José. E não tem necessidade de ter duas estruturas, com dois contratos de locação de máquinas; a mesma coisa com os exames de imagem. Vamos centralizar tudo no hospital, para que não precise ficar mantendo duas estruturas. A gente tem economia nesse sentido. Com relação ao ambulatório também, porque tínhamos especialistas dentro do hospital e em outra estrutura. Poderemos organizar um ambulatório único, serviço da neurologia. Estamos fazendo as primeiras conversas para colocar o ambulatório que funciona no Saguaçu dentro do hospital. Efetivamente, não é possível dizer se haverá economia, porque o número de médicos continua o mesmo, mas a gente consegue organizar melhor o serviço e atender a mais gente.

Continua depois da publicidade

Metas da Secretaria de Saúde para 2017

A principal meta é atingir 100% de cobertura da Saúde da Família na atenção básica, porque a gente precisa evoluir no projeto de saúde da família. A gente tem uma cobertura baixa, insuficiente ainda. Para isso, fizemos algumas priorizações: às áreas que têm maior vulnerabilidade, a gente deu prioridade, que é a zona Sul. Começamos em outubro de 2016, e a gente pretende, até o fim deste ano, estar com 100% da zona Sul em PSF. Isso indica não só uma mudança administrativa, mas também uma mudança de cultura da população. Hoje, a população chega no posto de saúde e quer acessar direto o pediatra, e não será mais assim. Ela vai acessar primeiro o médico da família, que será o médico que estará oito horas por dia no posto atendendo a todas as demandas. Caso seja necessário, ele vai referenciar para o especialista. Esta tem sido nossa principal bandeira, que é uma coisa que vem para melhorar, não vem para tirar o especialista de dentro do posto, pelo contrário, mas para botar o médico de oito horas, porque hoje os especialistas estão lá dentro três horas apenas. Depois de alcançar 100% na zona Sul, evolui para o Norte e para o Centro.

Integração do sistema

Existem limitações pelo sistema oferecido pelo SUS, o e-SUS. Ele tem módulos, e nem sempre estes módulos se conversam. Por exemplo, o módulo da atenção básica não se comunica com o módulo da fila. Ele funciona em municípios menores porque eles não têm hospitais. A nossa intenção é usar um sistema único que integre desde a atenção básica até o hospital. O que acontece hoje: a pessoa passa mal no domingo, vai ao PA e faz uma série de exames laboratoriais. Mas, na terça-feira, ela tem consulta marcada na unidade básica. Chegando lá, o médico vai pedir os mesmos exames, porque ele não tem acesso ao sistema. É um dinheiro perdido. A expectativa é que, com essa integração, a gente possa reduzir custos, especialmente nos exames. Esse sistema está sendo licitado pela Amunesc, por meio do consórcio CIS Nordeste, para os 12 municípios que compõem a região. A agenda do Regional está aberta não somente para Joinville, mas para as outras cidades, então poderemos trabalhar em rede e controlar mais. Acredito que nos próximos dias teremos a homologação da licitação.

Filas na madrugada

Com o Programa Saúde da Família, isso vai mudar. Não é invenção de Joinville, acontece no Brasil inteiro porque é uma cartilha que o Ministério da Saúde oferece e a gente tem que cumprir. Chamam de acolhimento: a primeira pessoa que irá atender ao usuário é o agente de saúde, para saber qual é a necessidade. Depois, a equipe de enfermagem e, por último, o médico. Esse é o sistema que o ministério recomenda e diminui a fila, porque todo mundo que entra é atendido.

Se a enfermeira avalia que realmente precisa do médico, ela marca a consulta, ou, se for urgente, fará encaminhamento para o pronto-atendimento. Para isso, precisamos de 100% de Saúde da Família. A gente pretende acabar com o agendamento gradativamente. Enquanto não consegue migrar, o agendamento terá que ficar, porque as equipes não estão preparadas para trabalhar desse jeito. O que estamos tentando fazer é minimizar as filas na madrugada. Há um ano, eram 20, agora são sete unidades que ainda têm essas filas. Há unidades em que a gente já implementou o acolhimento e as pessoas continuam indo de madrugada. Então, é um processo cultural, as pessoas precisam pegar confiança.

Continua depois da publicidade

Metas de 2017 para o Hospital São José

A meta é melhorar o atendimento no pronto-socorro, em termos de infraestrutura e de rotatividade de leito, para que ninguém fique no corredor, para que suba mais rápido para o leito. A gente precisa melhorar a ambiência do hospital, ele foi muito remendado. As obras da UTI reiniciaram no início de fevereiro e o cronograma é de seis meses. O centro de material esterilizado (CME) está quase pronto, o centro cirúrgico está aguardando os equipamentos, que estão em licitação, mas logo teremos boas notícias.

Ampliação do horário nas unidades de saúde

As equipes fizeram propostas de acordo com a sua realidade e estamos avaliando. Por exemplo, no Jardim Paraíso, por causa da insegurança da região, a gente acordou que não haverá ampliação, até porque as pessoas não buscam atendimento depois das 18 horas. Como as nomeações não saíram ainda, não conseguimos avançar, porque estamos sem os responsáveis pelas microrregionais. Assim que conseguirmos nomear, vamos chamá-los para conversar. Mas a intenção é manter a porta aberta. Não que, ao meio-dia, o médico estará lá. Porque, hoje, a gente chega na unidade de saúde ao meio-dia e as pessoas estão de guarda-chuva do lado de fora do portão esperando abrir enquanto a equipe está almoçando. Não tem necessidade disso, deixa o cidadão entrar. É uma proposta de razoabilidade, não de coerção do servidor trabalhar 12 horas sem parar. O ideal é que todas as unidades tivessem o mesmo horário, das 7 às 19 horas. No Programa Saúde da Família, o ministério preconiza que seja assim.

Novas unidades de saúde

Não é mais viável abrir novas unidades pequenas, espalhadas, por questões de custo fixo de manutenção. Temos priorizado grandes unidades em regiões adensadas. Precisamos de uma, no máximo duas, com tudo ali dentro. Não pretendemos ampliar o número de unidades, que são 56, mas fazer unidades maiores que possam servir melhor a população.