O início desta semana marcou um mês da chacina que vitimou seis trabalhadores em Joinville. Trinta dias depois, além da tristeza pela perda de entes queridos, familiares ainda sofrem a angústia da espera pela liberação dos corpos. Apenas um dos assassinados foi reconhecido oficialmente: trata-se de Rivair Amaral Ribeiro, de 23 anos. Os outros cinco mortos seguem no aguardo de identificação. Só após isso, os restos mortais poderão ser liberados para que as famílias façam a cerimônia de despedida e tenham, enfim, a tranquilidade de um desfecho para esta história.
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Famílias de vítimas de chacina em Joinville aguardam liberação dos corpos: “Fiquei sem chão”
Os cadáveres seguem no Instituto Médico Legal (IML), ainda sem prazo para identificação. Kelly Ribas Lobato, diretora de análises laboratoriais forenses da Polícia Científica, explica que esta demora está diretamente relacionada ao nível de degradação dos corpos, que foram carbonizados. No caso de Rivair, foi possível fazer o trabalho por meio das impressões digitais, já que as mãos estavam preservadas, ao contrário dos demais.
Segundo Roberto*, 32, irmão de um dos mortos e parente de Rivair, os restos mortais do jovem chegaram à casa da família, em Cruz Machado (PR), no último dia 15, e foi feita uma cerimônia rápida no cemitério para amigos e familiares. A ânsia, agora, é que os demais possam ser enterrados de forma digna.
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— Já faz um mês e não temos nada de previsão de quando vem os piás. É muito triste, a família está sofrendo bastante com essa espera — conta Roberto.

Famílias tiveram de colher mais material genético
Roberto conta que, há duas semanas, os familiares foram novamente chamadas para colher mais material genético a fim de auxiliar na identificação das outras vítimas do assassinato em massa.
João Leonardo Barneche, perito criminal e superintendente da Polícia Científica da região de Joinville, explica que, da primeira vez, apenas um familiar de cada vítima foi ao local e, com pouco material, houve dificuldade em fazer as interferências estatísticas e, assim, construir o perfil genético dos mortos. O que retardou ainda mais os resultados, diz Barnech.
Na última coleta, foram acionados familiares de primeiro grau, como pais ou filhos. Na falta dessas possibilidades, os irmãos foram chamados. Ainda conforme o superintendente, os restos mortais desses trabalhadores ainda não identificados serão submetidos ao reconhecimento por DNA, um método comparativo condicionado ao envio do material genético da vítima para confronto com o de familiares com o intuito de estabelecer o vínculo biológico entre indivíduos, e assim, identificá-los.
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Vale destacar que a complexidade neste caso só não foi ainda maior porque a empresa pela qual os homens trabalhavam forneceu uma lista prévia com o nome dos funcionários que ocupavam o alojamento no dia do crime.
Relembre o caso
As vítimas da chacina foram encontradas carbonizadas dentro de um Fiat Uno incendiado por volta das 10h de um domingo, 8 de janeiro, no bairro Vila Nova. Inicialmente, 10 vítimas que moravam na mesma casa, no bairro Morro do Meio, estavam envolvidas. Seis delas foram encontradas com os corpos queimados após uma possível discussão com moradores da região. O imóvel também foi incendiado pelos autores do crime. Três pessoas conseguiram escapar dos criminosos e um último morador da casa segue desaparecido.

De acordo com o delegado Dirceu Silveira Júnior, da Delegacia de Homicídios, as vítimas eram de Palmas e Cruz Machado, cidades do Paraná, e trabalhavam em uma empresa terceirizada em Joinville.
Durante a noite de sábado para domingo, teria acontecido um desentendimento fora da casa entre uma das vítimas encontradas carbonizadas e um dos autores do crime, de acordo com o delegado. Horas depois, os suspeitos teriam voltado até o local e ateado fogo no imóvel, como forma de retaliação pela discussão.
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No local, havia três carros pertencentes à empresa que foram usados para transportar as vítimas até uma estrada próxima ao fim da Rodovia do Arroz, no bairro Vila Nova. Foi onde um dos veículos, um Fiat Uno, foi encontrado carbonizado com as vítimas dentro por moradores, por volta de 10h de domingo.
Em relação aos sobreviventes, o delegado afirma que eles também foram retirados da casa pelos agressores, porém, conseguiram fugir dos suspeitos em algum momento durante o trajeto para o local em que seriam mortos. Os três não ficaram feridos e retornaram para casa. Um deles segue desaparecido.
Em uma das últimas atualizações sobre o caso, o delegado responsável pelas investigações, Eliéser Bertinotti informou que, antes de serem carbonizados, um dos homens teria sofrido um corte profundo no pescoço, enquanto os outros cinco foram atingidos por tiros na região da cabeça, o que indica que os seis foram mortos antes do carro ser incendiado.
Até então, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de que entre oito a 10 pessoas cometeram a chacina. Até o momento, dois foram presos.
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A reportagem do AN conversou com um dos responsáveis pela empresa que contratou os trabalhadores, que afirmou que já havia alugado o alojamento em outras oportunidades e que nunca havia tido problema com o local. Além disso, tanto ele quanto os familiares se chocaram com a violência deste crime, já que definem as vítimas como tranquilas, sem antecedentes de brigas.
*Nome fictício para preservar a segurança dos familiares
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