O projeto de lei complementar do governo federal que prevê a renegociação da dívida dos Estados deve começar a ser votado até o final desta semana. Antes, porém, governadores e secretários da Fazenda, incluindo os de Santa Catarina, cobram ajustes no texto encaminhado para a Câmara na semana passada. O principal ponto do debate será as exigências impostas no documento, como o bloqueio de contratações e aumentos salariais a servidores. Outro impedimento ao projeto é a existência de ações na Justiça. Desde fevereiro deste ano, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação protocolada pelo Governo de Santa Catarina que questiona o cálculo da dívida do Estado com a União, atualmente em torno de R$ 9 bilhões.
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O governador Raimundo Colombo pretende discutir o tema com representantes de outros oito Estados nesta terça-feira, em Brasília. O secretário de Estado da Fazenda, Antônio Gavazzoni, acompanha o governador, e eles devem apresentar uma proposta de mudanças no projeto de lei da União. As exigências do governo federal de contrapartida dos estados são as principais ponderações dos catarinenses:
— Após várias conversas, a União apresentou um projeto longo e com alguns pontos discutíveis. Há impedimento a novas contratações e bloqueio de reajuste salarial, além de impossibilidade de empréstimo com a União que pode chegar a quatro anos. Outro ponto que discordamos completamente, pois é ilegal, é a condição de retirada de ações judiciais.
Em fevereiro, o governo de Santa Catarina apresentou uma ação questionando a dívida atual de cerca de R$ 9 bilhões com a União. O ministro do STF, Edson Facchin, concedeu uma liminar desfavorável ao pleito dos catarinenses. No entanto, na quarta-feira deve ser analisado pelo Supremo um mandado de segurança sobre a mesma ação.
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Nem todas as exigências expostas no projeto de lei são criticadas pelo secretário Antônio Gavazzoni. A reforma previdenciária, já feita pelo Estado, e redução de 20% dos cargos comissionados tomando como base o mês de junho de 2014 são alguns pontos favoráveis para Santa Catarina.
— Já reduzimos o número de comissionados em cerca de 12%, então só teríamos que diminuir um pouco mais. Com a nova proposta, calculamos que o o valor mensal pago pelo Estado passe de R$ 89 milhões para R$ 27,5 milhões nos primeiros 24 meses, em seguida passando a aproximadamente R$ 50 milhões, valores que consideramos razoáveis — explica Gavazzoni.
Com a possibilidade de descontos de 40% nos primeiros dois anos, caso o projeto seja aprovado, a previsão é que cerca de R$ 45,5 bilhões deixem de ir para os cofres do Governo Federal nos próximos anos. Além disso, as dívidas seriam prolongadas por mais 20 anos, com prazo final até 2048.
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Cunha discute tramitação com líderes de partidos
Tramitando sob regime de urgência constitucional por escolha do executivo desde 22 de março, quando o projeto de lei complementar 257/2016 foi apresentado na Câmara, foi estabelecido um prazo de cinco sessões para que parlamentares pudessem apresentar emendas ao texto proposto pela União. O assunto foi discutido pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na reunião com líderes de partidos, na tarde de segunda-feira. Havia a possibilidade de acelerar o processo de tramitação, mas os deputados decidiram pela manutenção do prazo de cinco sessões. De acordo com a assessoria legislativa da Câmara, ocorreram duas sessões na semana passada e, caso sejam realizadas sessões todos os dias, há a possibilidade do projeto ir a plenário até o final da semana.
O deputado catarinense Esperidião Amin (PP) é cotado para relatar o projeto. Ele já conversou com representantes de outros estados e prepara mudanças na proposição do governo federal.
— Acredito que é um projeto que trata de um assunto muito sério para ser tratado de forma apressada. Em um primeiro momento, os artigos que colocam como condição a inexistência de ações judiciais contra a União são alguns pontos bem discutíveis, na minha opinião — diz o deputado catarinense.
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As exigências da União
Pelo período de 24 meses, os Estados estariam impedidos de contratar servidores, por exemplo, e teriam de efetuar um corte de 20% nos cargos em comissão. Veja os pontos:
– Contratação de servidores, exceto para reposição nas áreas da saúde, educação e segurança
– Concessão de reajustes salarias, exceto por decisão judicial e reajuste geral dos servidores
– Limitação do crescimento de Outras Despesas Correntes ao IPCA
– Corte de 20% dos CCs, em relação a junho de 2014
– Limitação das despesas de publicidade em 50% da execução média dos últimos 3 anos
– Limitar benefícios dos servidores estaduais aos concedidos pela União
– Instituição de regime de previdência complementar
– Elevação das alíquotas de contribuição previdenciária dos servidores para 14% e patronal para 28%
– Não realizar operações de crédito (por 48 meses)
– Não conceder renúncia de receita ou qualquer tipo de benefício fiscal
– Renúncia de qualquer ação judicial que discuta a dívida
5 pontos que SC questiona
– Impossibilidade de aplicar aumento salarial nos próximos dois anos;
– Impedimento de realização de novas contratações nos próximos dois anos, exceto em áreas consideradas essenciais: saúde, educação e segurança;
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– Redução de 50% dos gastos com propaganda em relação aos empenhos efetuados nos últimos três exercícios financeiros;
– Estado não pode ter ações judiciais contra a União sobre o tema;
– Impedimento de obtenção de empréstimos com a União em período que pode chegar a quatro anos.