O governo de Santa Catarina vem discutindo com os municípios de Camboriú, Balneário Camboriú e com a Empresa Municipal de Água e Saneamento (Emasa) alternativas para que não falte água nas duas cidades nas próximas décadas. Esta semana alguns acordos foram firmados, entre eles o de outorga – autorização do governo para uso da água – do Rio Camboriú, único manancial que abastece os municípios.

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O documento, que deve ficar pronto na próxima semana, vai regularizar que a Emasa capte 514 litros de água por segundo na bacia. O valor corresponde ao que já vem sendo explorado, mas é praticamente o dobro do que a secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável havia previsto para ser retirado do rio nos últimos anos, o que está conflitando a opinião de especialistas.

Até antes da reunião o governo vinha tratando o valor de captação no Camboriú como assunto sigiloso. Mesmo assim, o gerente de outorga e controle de recursos hídricos da secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável, Fábio Carvalho Martins, adiantou que a quantidade excedia o que previa o dado oficial. O presidente do comitê, Ênio Faqueti, explica que a previsão era de captação de 209 litros por segundo, mas isso nunca havia sido oficializado.

– A Emasa apresentou esses 514 litros por segundo como o que já vem sendo retirado do rio, então agora será feita a outorga para regularização da captação – explica.

O vice-presidente do comitê e professor de Engenharia Ambiental da Univali Paulo Schwingel acredita que a quantidade extrapola aquilo que a vazão do rio comporta. Por isso, destaca a importância de que sejam possibilitadas outras alternativas de captação.

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Uma delas é a criação de um parque inundável, que teria barragens de até quatro metros de altura para captação de água bruta da chuva e seria construído acima da área de captação de água da Emasa. Além disso, as comportas teriam controle hidráulico para esvaziar caso começasse a chover muito, minimizando efeitos de futuras enchentes. Segundo o professor, nos próximos 20 e 30 anos as chuvas serão mais constantes.

– Também é importante trabalhar a conscientização da população, a recuperação da mata ciliar, o saneamento, a individualização dos hidrômetros dos prédios, a obrigatoriedade de que os edifícios captem água da chuva – acrescenta Paulo Schwingel, advertindo que caso não sejam adotadas algumas dessas medidas, pode faltar água para consumo nas cidades dentro dos próximos quatro ou cinco anos.

Ênio Faqueti, porém, acredita que o rio não sofreu uma baixa tão significativa com a captação excedente. O presidente do comitê garante que não se sabe qual a verdadeira capacidade de vazão do rio. Isso até então era feito por amostragem e só um estudo hidrológico permitirá saber qual o potencial de exploração da bacia e definir com precisão a outorga, segundo ele.

Esse estudo deve ser viabilizado pelo Estado, antes de ser iniciado o projeto de macrodrenagem, que foi firmado também na reunião de terça. Macrodrenagem Atualmente, a bacia do Rio Camboriú é muito estreita e curta, segundo Faqueti. São aproximadamente dois quilômetros de largura e 40 quilômetros de extensão, além de bordas inclinadas, que impossibilitam a retenção de água.

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Com a macrodrenagem, cujo projeto deve ser elaborado pelo comitê e colocado em prática pelas prefeituras, seria possível aumentar a vazão.

Alternativas para frear a escassez de água

Não é de hoje que se questiona a possível falta de água em Balneário Camboriú e Camboriú nos próximos anos. Por isso, a Emasa estuda dois projetos que podem solucionar o problema. Um deles é o de captação de água no Rio Itajaí-Mirim, que está em fase de busca por financiamentos em Brasília. Segundo o diretor da autarquia, Eduardo Régua, o empreendimento custaria cerca de R$ 20 milhões e seria uma segunda alternativa para o caso de contaminação do Rio Camboriú em caso de um acidente, por exemplo.

Mas o parque inundável, que ainda não tem um projeto pronto, é visto atualmente como prioridade. O custo para implantação também seria de R$ 20 milhões, incluindo obra e desapropriações. Além da área inundável, o parque contaria com uma área de lazer no entorno. Os pontos positivos são que seria captada água bruta da chuva e a possibilidade de esvaziamento em caso de aumento do volume do rio.

– São dois projetos muito bons, se conseguirmos recursos podemos até fazer os dois – diz Régua, que acredita que dentro de 10 anos o rio não atenderá a demanda das duas cidades devido ao crescimento populacional.

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