Começar a trabalhar na faixa etária entre 10 e 13 anos é o maior temor dos especialistas porque nesta situação é quase certo que a decisão é acompanhada do abandono ou queda no rendimento escolar. Líder de trabalho infantil no país proporcionalmente – com 18,9% dos jovens entre 10 e 17 anos com alguma ocupação – Santa Catarina é o Estado brasileiro com maior potencial de influência do que os especialistas batizaram de círculo da pobreza.
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O mecanismo se forma quando crianças e adolescentes começam em subempregos e têm os estudos comprometidos. Um dos mais conceituados especialistas em mercado de trabalho do Brasil, o professor da USP José Pastore explica que na fase adulta eles não terão qualificação e serão peões durante toda a vida.
A diretora do Fórum Estadual de Erradicação, Inge Ranck, atenta para o fator cultural, onde a sociedade acredita que se a criança estiver na escola, não há problema em trabalhar.
– É um equívoco grave, pois criança que trabalha tem dificuldade no aprendizado e pior desempenho escolar. Isso a desestimula a permanecer na escola – destaca Inge Ranck.
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Outro mito a ser desconstruído, na opinião da diretora do Fórum Estadual de Erradicação, diz respeito ao trabalho precoce afastar os menores do uso de drogas ou da cooptação pelo crime.
– Ao contrário, pesquisas indicam que os adolescentes em conflito com a lei e os adultos envolvidos na criminalidade, em geral, começaram a trabalhar cedo e foi no trabalho que tiveram contato com a droga – alerta a diretora.
O estudo que coloca o Estado no topo da lista do trabalho infantil foi elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) com base no Censo do IBGE. Traduzindo o percentual de 18,9% de jovens trabalhando, são 160,1 mil pessoas na faixa etária mencionada. O índice está acima do nacional, que é de 12,4%.
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Segundo a diretora do Fórum Estadual de Erradicação, todas as pessoas flagradas em Santa Catarina em condição de trabalho análogo à escravidão iniciaram uma profissão antes de completar 18 anos.
Influência cultural e consumismo
Os postos ocupados pelos adolescentes e crianças variam conforme o local em que estão, explica a desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho Viviane Colucci. Sem alternativas, os moradores do campo que não completaram a maioridade ajudam os pais nas lavouras de pequenas propriedades rurais. No meio urbano é comum a mãe pegar alguma tarefa que não exige qualificação e colocar os filhos para ajudar. Viviane diz que por trás da vontade de arranjar trabalho dos jovens na zona urbana também está o consumismo:
– Eles querem ter o celular de última geração, roupas de marca e tênis da moda – diz a desembargadora.
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Para ela, a solução para terminar com o trabalho infantil passa por capacitação dos pais por meio de cursos. Ela considera que cursos aumentariam o conhecimento e os moradores das regiões agrícolas teriam como aumentar a produtividade das lavouras e os das cidades conseguir melhores empregos. Desta maneira, os filhos poderiam se dedicar somente aos estudos.
A situação catarinense tem motivação cultural, afirma a professora de História do Brasil Silvia Arend. A influência da colonização italiana e alemã faz com que o trabalho seja considerado um valor e uma forma de inserção social dos jovens. E quebrar este costume é complicado. Silvia defende a escola em tempo integral como um caminho para a mudança cultural, mas é preciso combinar com a sugestão da desembargadora de aumento salarial das famílias com menores trabalhando.