No vácuo do golpe ao Primeiro Grupo Catarinense (PGC), desmobilizado moralmente e abalado financeiramente, criminosos se articulam para preencher espaço e tentam criar novas facções dentro do sistema prisional no Estado.

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A movimentação é acompanhada por setores de inteligência, que identificaram três novas organizações em fase embrionária. Todas na faixa litorânea de Santa Catarina e de oposição ao PGC.

Nenhuma delas têm mais 300 detentos (veja mapa ao lado). Investigadores não dão detalhes sobre o trabalho, que ocorre em sigilo com o argumento de que a divulgação de qualquer informação pode atrapalhar o combate aos bandos.

A Secretaria de Segurança Pública garante que o Estado está trabalhando para evitar que elas ganhem corpo. Acrescentou que o aparato montado para responder às ondas de atentados a ônibus e unidades policiais entre novembro de 2012 e fevereiro deste ano foi mantido e reuniões entre agentes de inteligência de todos os órgãos da área são realizadas semanalmente.

Há ainda a criação da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco) na Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), que monitora alvos. Alguns são ex-líderes do próprio PGC que saíram do bando após desavenças internas.

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O trabalho ainda mira o PGC, mesmo que a facção esteja enfraquecida e com pouco poder financeiro, uma vez que ela não está totalmente debelada. Operações da Polícia Civil foram desencadeadas para cortar elos de comunicação com a Penitenciária Federal de Mossoró, onde estão os líderes, e rastrear contas bancárias abastecidas com o dinheiro arrecadado pelos soldados que seguem a serviço da facção.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, aparecia como principal ameaça a Santa Catarina após a derrocada do PGC porque tem dinheiro, armas e acesso direto aos fornecedores de drogas da Bolívia e Paraguai, pois o tráfico ainda é a maior fonte de financiamento do crime organizado.

A prevenção do governo catarinense contra a quadrilha paulista começou junto com o combate ao PGC. Razão pela qual entre os 40 transferidos em fevereiro 37 seguiram para Mossoró (RN) e três para Porto Velho (RO).

O trio não tinha nada a ver com os atentados e muito menos com o PGC. Eram chefes do PCC no Estado e foram enviados ao sistema penitenciário federal para evitar que articulassem ofensiva no sistema prisional local. Ocorre que os argumentos para justificar as transferências eram fracos e continham até informações de um inquérito produzido em 2006.

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Os três voltaram para Santa Catarina um mês depois. Para o Estado, foi positiva a remoção, pois evitou que aproveitassem o espaço vazio.

Todo esse cenário de resposta ao crime organizado veio à tona após o assassinato da agente prisional Deise Alves, 30 anos, a mando do PGC.

O homicídio completa um ano no próximo sábado. Considerado o estopim para o que viria a ser a maior afronta dos bandidos ao Estado, é um dos capítulos emblemáticos da história recente de Santa Catarina por ter desencadeado a violência que, das cadeias, tomou as ruas.

As novas quadrilhas

Levantamento mostra onde estão as facções criminosas que tentam aumentar o poder dentro do sistema prisional catarinense com o enfraquecimento do PGC.

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Todas são pequenas, mas mostram bastante união e capacidade de cobrar as mensalidades exigidas dos integrantes, algo que o PGC não conseguiu manter após os atentados e contribuiu para que ele perdesse força.

Força Revolucionária Catarinense (FRC)

Criada como Serpente Negra no Raio 1 da Penitenciária de São Pedro de Alcântara. No final de 2012 mudou de nome, mas manteve o mesmo líder, Davi Schroeder, o Gângster. Ele foi fundador do PGC e traiu a organização com um depoimento chave para a transferência dos rivais para penitenciárias federais em fevereiro deste ano. O lema dele é que a “firma visa o bem do ladrão” e que “quem fica batendo de frente é cabeça de lata”.

Filiados: 300

Presença: Penitenciária de São Pedro de Alcântara

Primeiro Comando Revolucionário Catarinense (PCRC)

Facção de oposição ao PGC fundada no ano passado dentro do Presídio de Joinville. Conseguiu expandir a ação filiando alguns detentos na Penitenciária Industrial de Joinville. O número de integrantes é limitado, mas são bem coesos, pois a maioria pertence a quadrilhas criminosas que agem em Santa Catarina. As regras e deveres da organização estão estabelecidas em um estatuto, assim como o PGC.

Filiados: 200

Presença: Presídio de Joinville e Penitenciária Industrial de Joinville

País Livre SC (PL-SC)

Antigo Comando de Balneário Camboriú, uma cadeia em que o PGC nunca conseguiu entrar. Com a extinção da unidade prisional, os integrantes foram para a Penitenciária da Canhanduba, em Itajaí, e dominaram uma galeria. Tentaram expandir a área de influência para outras prisões, principalmente a Penitenciária Sul, em Criciúma, uma das mais seguras do Estado. Tiveram pouco sucesso.

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Filiados: 150

Presença: Penitenciária da Canhanduba (Itajaí) e Penitenciária Sul (Criciúma)

Primeiro Comando da Capital (PCC)

Considerada uma das organizações mais poderosas do Brasil, está presente em Santa Catarina desde a metade da última década. Mesmo com o poder em São Paulo, não comanda nenhuma cadeia catarinense. Mas domina o tráfico de drogas no Norte da Ilha, em Florianópolis, e está presente também em cidades do Norte do Estado, como Joinville e São Francisco do Sul. Muitos integrantes já eram filiados quando chegaram ao sistema prisional e outros foram batizados no Paraná.

Integrante: 250

Presença: Joinville e São Pedro de Alcântara