O estado de saúde do ex-espião russo Serguei Skripal “melhora rapidamente” após seu envenenamento em março, na Inglaterra, anunciou nesta sexta-feira (6) o hospital, enquanto a Rússia voltava a negar que tivesse fabricado o agente neurotóxico que esteve a ponto de acabar com sua vida.

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Serguei Skripal “responde bem ao tratamento” e “já não está mais em estado crítico”, declarou o hospital em um comunicado sobre este caso que desencadeou uma crise diplomática entre a Rússia e o Ocidente.

O estado de saúde de sua filha Yulia, que também foi envenenada, melhora “diariamente”, segundo a médica Christine Blanshard. “Está impaciente para poder sair do hospital”.

“Estamos muito contentes de que o estado de saúde de Skripal e de sua filha Yulia esteja melhorando”, reagiu o Ministério britânico das Relações Exteriores.

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O Ministério do Interior, por sua vez, anunciou que havia negado um visto de entrada no país à sobrinha de Serguei Skripal. “Negamos um pedido de visto como visitante a Viktoria Skripal porque não cumpre com as regras de imigração”, explicou em um comunicado.

Viktoria, que mora na Rússia, disse que havia solicitado o visto britânico para visitar seus parentes no hospital.

Yulia e Serguei Skripal foram encontrados inconscientes em 4 de março em um parque de Salisbury (sudoeste), onde o ex-espião russo mora desde que se beneficiou de um intercâmbio de presos entre Moscou, Londres e Washington em 2010.

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A polícia britânica considera que foram contaminados em casa, já que a maior concentração de veneno foi detectada na maçaneta da porta de entrada da residência.

De acordo com o jornal britânico The Times, o veneno, conhecido como Novichok, foi elaborado em uma cidade fechada na região do rio Volga, sob controle estrito do governo.

Moscou, que afirmou explicitamente que os Serviços Secretos britânicos e americanos estavam por trás da tentativa de assassinato de Skripal, se mantém firme em seus desmentidos.

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Na quinta-feira, o Times citou fontes dos serviços de Segurança britânicos segundo as quais o agente neurotóxico foi concebido em Shijany, uma cidade à qual o acesso é permitido apenas com autorização oficial, na região de Saratov, perto do rio Volga, no sudoeste do país.

O nome de Shijany não é totalmente desconhecido: esta cidade fechada, onde está instalado um braço do Instituto de Pesquisa de Estado para a Química e as Tecnologias Orgânicas (GNIIOKhT), foi mencionada por vários cientistas russos que trabalharam no programa soviético Novichok, que Londres apontou como responsável pelo envenenamento de Serguei Skripal.

Entre eles está Vil Mirzayanov, o químico que revelou nos anos 1990 a existência deste programa e que afirmou que o Novichok foi desenvolvido nos anos 1980 em Shijany.

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– Recuperação –

Segundo especialistas, as chances de recuperação de Skripal são altas, já que o tratamento adequado foi administrado rapidamente. “A cura é, em geral, muito boa”, explicou Chris Morris, do Centro de Toxicologia Médica da Universidade de Newcastle.

“Pelo que sabemos, não existe um antídoto específico para o Novichok”, detalhou à AFP o químico e toxicologista Ralf Trapp. “O que se faz nesses casos é estabilizar as funções vitais do corpo (como respiração, ritmo cardíaco) e dar atropina para contra-arrestar os sintomas” dos agentes nervosos.

Outro cientista russo, Leonid Rink, afirmou em março à agência de notícias Ria Novosti que um “grande grupo de especialistas estava desenvolvendo o Novichok em Moscou e em Shijany”, acrescentando que o sistema foi chamado durante o período soviético de “Novichok-5”.

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“O Novichok não é uma substância, é todo um sistema de armas químicas”, explicou à Ria Novosti, que o apresentou como um dos criadores deste programa antes de modificar seu texto para defini-lo como um “dos criadores do agente tóxico que recebeu o nome de ‘Novichok’ no Ocidente”.

De acordo com o site do Instituto GNIIOKhT, seu braço em Shijany está envolvido agora em um trabalho relativo a “garantir a segurança” do país e destruir armas químicas.

Em setembro de 2017, o presidente Vladimir Putin declarou que Moscou havia destruído suas últimas reservas de armas químicas herdadas da época da Guerra Fria, conforme os termos da Convenção de 1997 sobre a Proibição de Armas Químicas.

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* AFP