Estádio do Marcílio Dias foi palco de bingos que movimentavam Itajaí

– Dois patinhos na lagoa!

– Uma boa ideia!

– Olha os óculos do padre Cícero!

– Agora os dois gringos andando a cavalo estão chegando.

A descrição dos números 22, 51, 88 e 55 embalou muitas tardes de domingo em Itajaí durante a década de oitenta e meados da década de noventa. O bingo do Marcílio Dias era algo aguardado. Famílias almoçavam mais cedo e os ônibus chegavam ao Centro lotados. Se não tinha lugar no alambrado, sem problemas, cadeirinhas de praia tomavam conta do espaço. No meio-campo o globo girava, embaralhando as pedras e só não fazendo mais barulho do que a batida cardíaca dos jogadores. O caminhão de prêmios ficava atrás da trave, enchendo os olhos daqueles que com atenção ouviam as pedras cantadas a fim de que completassem suas cartelas.

O ano de 1988 não havia sido fácil para Denise Gamba e nem era pelo fato de não saber ainda quem havia matado Odete Roitman. Aos 24 anos, com dois filhos pequenos ela tinha recém terminado um relacionamento e a situação financeira não era das melhores. Por obrigação, em dezembro daquele ano teve que participar do bingo organizado pela escola das crianças. E fazendo valer o ditado “azar no amor, sorte no jogo”, saiu de lá com uma moto após o sorteio da pedra 67.

Acreditando que o universo conspirava a favor, disse para uma amiga que compraria uma cartela do bingo do Marcílio Dias porque quem ganha uma moto, ganha um carro também. Assim ela fez e assim ela gritou “Bingo!” exatamente uma semana depois do prêmio na escola. A pedra que garantiu o carro? A mesma 67.

– Na época eu saí gritando desesperada. Se a próxima pedra saísse, eu perderia o prêmio – recorda.

Sem saber dirigir e precisando mais do dinheiro do que do carro, Denise vendeu o Gol branco para um empresário que queria presentear a filha no aniversário.

– Toda a minha sorte acabou em 1988. Depois disso nunca mais ganhei nada em sorteio.

Os bingos do Marcílio Dias eram organizados por uma das figuras itajaienses mais importantes da época. Cídio Sandri, que tinha até título de comendador concedido pela Ordem de São Jorge, em Roma, e assinada pelo papa, também era dono de uma das maiores redes supermercadistas do Brasil, a Vitória. O poder de Sandri se estendeu até o início dos anos 2000, quando o grupo foi à falência.

Se o ditado diz também que o valor das coisas não está no preço que elas possuem, mas sim na intensidade que a desejamos, pode-se dizer que Flávio Roberto de Oliveira foi tão sortudo quanto Denise no Bingo do Marcílio Dias. Em um domingo qualquer, o menino que deveria ter por volta dos 10 anos foi com a mãe ao estádio e quando estava bem confortável na cadeirinha de praia saboreando suas guloseimas recebe a informação de que ela deveria a ganhadora de uma bicicleta.

– Eu só pensava na música “We are the champions”, do Queen e em como ia aproveitar a bicicleta.