*Por Dennis Overbye
Se alguma vez houve seres sencientes em Ophiuchus, um distante aglomerado de galáxias no céu meridional, eles já se foram há muito tempo. Algumas centenas de milhões de anos atrás, uma poderosa tempestade cósmica atravessou aquela região do espaço. O gás quente sufocou o aglomerado, mas a tempestade abriu uma cratera de mais de um milhão de anos-luz de largura, deixando apenas um quase vácuo, uma névoa de partículas elétricas ultraquentes.
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A culpada, suspeitam os astrônomos, foi uma gigantesca explosão de energia de um buraco negro supermassivo – a maior explosão já documentada no universo, de acordo com Simona Giacintucci, radioastrônoma do Laboratório de Pesquisa Naval e líder da equipe de pesquisa.
Uma declaração do laboratório em 27 de fevereiro comparou os efeitos da explosão à erupção de 1980 que arrancou o topo do Monte St. Helens, no estado de Washington. Exceto que "você poderia encaixar uma fila de 15 galáxias como a Via Láctea" na cratera aberta pelo gás, disse ela.
As últimas observações de rádio do aglomerado de galáxias foram descritas em um artigo no "Astrophysical Journal".
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A suposta explosão seria classificada como a maior já descoberta na história do universo: o equivalente energético de um bilhão de explosões de supernovas, desencadeadas em uma torrente que provavelmente durou cem milhões de anos. Cem milhões de anos de mau tempo espacial.
Isso é extremo, mas pode não ser o pior cenário. Ophiuchus está relativamente perto da Terra, a apenas cerca de 390 milhões de anos-luz de distância. Se os astrônomos olhassem mais além, poderiam ver evidências de eventos igualmente estranhos, afirmou Norbert Werner, astrônomo da Universidade Masaryk, em Brno, na República Tcheca, e da Universidade Eotvos Lorand, em Budapeste, cujas observações com o Observatório de raios X Chandra, da Nasa, ajudaram na descoberta.
Um buraco negro com vários bilhões de vezes a massa do sol presumivelmente se encontra no centro do aglomerado de Ophiuchus, em uma galáxia conhecida apenas por um número: WISEA J171227.81-232210.7.
Os buracos negros são mais conhecidos por sua capacidade de engolir matéria e energia, incluindo a luz, e removê-las do universo para sempre. Mas eles têm outra característica: eles arrotam, e, quando um buraco negro arrota, você não quer estar por perto. Paradoxalmente, buracos negros arrotando são os objetos mais brilhantes do universo, produzindo fogos de artifício conhecidos como quasares e outros fenômenos violentos.
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Os aglomerados de galáxias são os maiores agrupamentos de matéria do universo, contendo o equivalente a trilhões de sóis. Mas a maior parte dessa matéria está na forma de gás intergaláctico tão quente que irradia raios X, que os astrônomos usam para detectar aglomerados distantes no espaço. Quando esse gás esfria e se afunda no centro da galáxia, fornece o combustível para explosões por meio das quais um buraco negro supermassivo pode afetar reinos do cosmos muito além da galáxia originária.
Antes de desaparecer, o gás gira ao redor da borda do buraco negro como água em volta de um ralo. As pressões nessa rosquinha de destruição expelem poderosos jatos de partículas e radiação da parte superior e da inferior, bombardeando o universo.
Em 2003, observações com o satélite Chandra descobriram que pulsações regulares de um buraco negro gigante em uma galáxia no aglomerado de galáxias de Perseus estavam gerando ondas através do espaço intergaláctico com a frequência de um si bemol, 57 oitavas abaixo do meio dó. O buraco negro estava "cantando". Ao liberar gás periodicamente ao seu redor, o buraco negro impedia a formação de estrelas. Outros buracos negros cantantes foram posteriormente encontrados.
Em 2016, uma descontinuidade acentuada apareceu nos mapas de raios X do aglomerado de Ophiuchus elaborados pelo Chandra. Werner, então na Universidade de Stanford, se perguntou se isso representaria a borda de outra bolha de buraco negro. Ele e seus colegas finalmente concluíram que não, "porque teria de ser o resultado da explosão mais poderosa já vista no universo", escreveu ele em um e-mail.
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Mas Giacintucci e seus colegas persistiram. Eles examinaram dados do satélite de raios X XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia, que também revelou uma "borda", e de dois radiotelescópios: o Murchison Widefield Array, na Austrália, e o Giant Metrewave Radio Telescope, na Índia.
Os radiotelescópios concluíram o caso. A região sem raios X do outro lado da "borda" estava cheia de ruídos de rádio, exatamente como esperado se um feixe de poderosas partículas de alta energia tivesse explodido aquela região.
"Os dados de rádio se encaixam dentro dos raios X como uma mão em uma luva", afirmou Maxim Markevitch, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa em Greenbelt, Maryland, e membro da equipe de Giacintucci.
Werner disse que o buraco negro teria de ter engolido material de cerca de 270 milhões de massas solares para ter criado uma explosão tão grande. A tempestade pode ter durado cem milhões de anos. Leva muito tempo para digerir uma pequena galáxia equivalente a alguns sóis.
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Está tudo acabado agora. O gás resfriado que alimenta o buraco negro está se esgotando ou se desprendeu para outra parte do aglomerado de Ophiuchus. Mas tempestades ainda maiores ainda podem ser detectadas.
"Estou feliz com o fato de novas evidências terem provado que estávamos errados. E acho que esse resultado significa que muitas outras 'crateras' grandes assim estão à espreita no universo. Elas estão fora dos brilhantes núcleos de raios X do aglomerado, esperando a próxima geração de instrumentos para descobri-las", concluiu Werner.
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