Pouco mais de um mês no cargo de prefeito da Capital catarinense, Cesar Souza Junior perdeu o sono pela primeira vez preocupado com os atentados. Na entrevista, ele fala sobre como ficou sabendo e de que forma a administração municipal pode ajudar.
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Diário Catarinense – Como o senhor está avaliando essa situação dos ataques e de que forma a prefeitura pode contribuir?
Cesar Souza Junior – Vejo com extrema preocupação, sobretudo porque chega num momento bastante impróprio. Veja que sexta-feira a gente tinha, além da ameaça dos ataques, uma intensão inicial do setor do transporte coletivo em paralisar completamente o serviço até segunda-feira. E houve um processo de convencimento, eles colaboraram e a gente manteve essa rotina especial. E ao mesmo tempo tinha uma concentração de 40 mil pessoas no Berbigão do Boca e mais de 30 mil na escolha da rainha. Então realmente o momento foi muito impróprio. O que a gente tem procurado fazer é dar todo o suporte ao trabalho da polícia, a Guarda Municipal está, dentro das suas atribuições de vigiar prédios públicos, procurando ajudar. E a gente espera que isso se resolva o mais rápido possível e que a cidade possa retomar sua normalidade.
DC – Quando o senhor ficou sabendo dos ataques?
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Cesar – Na própria quarta-feira quando eles começaram a gente já teve as informações da inteligência. A Guarda Municipal foi imediatamente avisada porque infelizmente ela também pode se tornar alvo. Então a gente está aqui com um plano de ação, procurando ajudar a polícia. Estamos também em permanente contato com as empresas de transporte e com o Sintraturb, realizei uma reunião no gabinete, no dia seguinte aos ataques, com o sindicato, com as empresas de transporte coletivo. Conseguimos, ao menos, manter o serviço funcionando. O medo dos motoristas e cobradores era bastante intenso e compreensível. Mas pelo menos o serviço, ainda que de maneira não ideal, está sendo mantido e essa é a minha grande preocupação, manter o transporte coletivo operacional.
DC – Qual o primeiro sentimento que o senhor teve ao ficar sabendo?
Cesar – Tristeza. É muito triste a cidade ser atacada dessa maneira. Acredito que é um momento difícil que a gente tem que ultrapassar. Torço muito para que a gente resolva isso rápido e retome o controle da situação nesse aspecto para que a cidade possa seguir a sua vida normalmente.
DC – O senhor chegou a perder alguma noite de sono?
Cesar – A gente fica muito preocupado porque temos aí um usuário do transporte coletivo, um rapaz, voltando do trabalho, que teve parte do corpo queimado. Teve um motorista que sofreu coronhadas. São pessoas absolutamente inocentes, sem nenhuma relação com nenhum atividade criminosa, que acabam sofrendo com esses atos. Isso é muito lamentável então vou te confessar que, não só a mim, como a várias pessoas, isso realmente nos tira o sono, sem dúvida.
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DC – De maneira mais ampla, com relação às políticas de segurança pública, embora isso seja atribuição do Estado, de que maneira o senhor acha que a prefeitura pode contribuir?
Cesar – Nós fizemos um fórum de segurança pública e vamos avançar no diálogo com os consegs para identificar essas questões. A atuação da Guarda Municipal se dará em consonância com as polícias, agindo dentro da sua atribuição. Agora no início, no período escolar, nós vamos colocar a Guarda Municipal majoritariamente na porta das escolas. Lembrando que hoje a Guarda está integralmente na rua atuando, nós eliminamos o desvio de função que fazia com que quase metade dos guardas anteriormente não estivessem nas ruas. E vamos iniciar um grande programa de iluminação pública nas praças e também nos lugares onde tradicionalmente se realizam um maior número de crimes. Essas são as ações que nós vamos fazer em parceria com a polícia nos próximos dias.
DC – Com relação a políticas sociais, o senhor acredita que trabalhando nesse sentido pode contribuir com a segurança?
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Cesar – Sem dúvida. A gente assumiu a prefeitura sem abordagem de rua e estamos retomando esse trabalho agora. Vamos, nos próximos dias, inaugurar a nova casa de passagem, o albergue com cerca de 50 vagas. Nosso objetivo é propiciar ao morador de rua acolhimento e alternativas de tratamento. A gente está ampliando os convênios com entidades que promovam tratamento de dependentes químicos. Eu pude observar, na vistoria aos moradores de rua, que quase a totalidade são dependentes de crack ou álcool, geralmente os dois combinados. Então a gente precisa muito intervir nessas áreas e não é só com polícia, tem que ter porta de saída. Ainda essa semana a gente deve ter uma conversa com as casas de tratamento, a gente vai ampliar o número de vagas, pra que a gente possa ter essa intervenção mais efetiva e agir preventivamente.
DC – A prefeitura pretende adotar alguma medida de ajudar pessoas que vieram do interior do Estado e estão sem trabalho a voltar a suas cidades de origem?
Cesar – Vamos propiciar às pessoas que vem a Florianópolis e que não tenham aqui alternativas de vida e de trabalho, que possam retornar a sua cidade de origem, fornecendo passagem. Mas isso, logicamente, num convencimento voluntário. A gente não pode obrigar ninguém a retornar nem proibir que as pessoas entrem na cidade. Agora essa abordagem vai ser feita com assistentes sociais, vai ser intensificada sobretudo no terminal Rita Maria e também nos moradores de rua e aqueles que desejem retornar a sua cidade, compreendam que aqui não tem alternativa economia terão as condições materiais para poder retornar a sua cidade.
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DC – Em um mês no cargo o senhor já passou por situações como problemas nas contas da prefeitura, embargo da maricultura, vistoria nas casas noturnas e atentados. O que mais difícil?
Cesar – Creio que essa questão dos ataques porque mexe diretamente com a rotina das pessoas. É muito triste. Hoje sai cedo pela manhã para olhar e as pessoas aguardando o transporte coletivo, a gente vê, mesmo sem o desfile das escolas, a gente está com um carnaval muito bonito de rua, com várias ações programadas, e isso mexe com a própria autoestima da cidade. Não é um problema só nosso, é um problema estadual. Mas eu creio que é muito importante que a gente aja em conjunto, na área social, no tratamento ao dependente químico, no reforço da educação integral nas comunidades mais carentes para impedir que o tráfico consiga arregimentar com tanta facilidade os jovens. A gente pode perceber que os autores desses ataques são sobretudo adolescentes, oriundo de regiões carentes, com relação com o tráfico de drogas. Então o nosso papel na prevenção é muito importante.