Embora defendida por Donald Trump e Jair Bolsonaro, a hidroxicloroquina ainda não pode ser apontada como medicamento para tratar o coronavírus. A afirmação é da diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) Ekaterini Simões Goudouris. Para ela, a cura para a doença não pode ser confundida com um debate político, mas encarada como puramente técnica.

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Em entrevista ao Notícia na Manhã, Ekaterini ressaltou que a definição de um medicamento ou tratamento depende de um longo processo de pesquisa e testagem.

– A questão é que do ponto de vista científico até o presente momento, a gente não tem nenhum medicamento que claramente cause benefício nem para prevenir, ou seja, bem no início do quadro infecciosos, nem para nem que consiga tratar os quadros mais dramáticos – afirmou.

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Ciência

Com a recorrente menção à hidroxicloroquina pelos presidentes americano e brasileiro, apoiadores dos dois políticos têm divulgado a ideia para tratar o coronavírus mesmo sem comprovação científica. Segundo Ekaterini Goudouris, a situação foi desencadeada pela divulgação de estudos ainda em fase inicial, sem uma ampla discussão da comunidade científica. Essa divulgação se deve à urgência imposta pela pandemia.

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– Pro leigo dizer assim: o vizinho usou e ficou bem, três pessoas minhas amigas usaram e ficaram bem é suficiente para achar que deve usar, mas isso não tem força pro médico receitar, porque precisa estudar pacientes que usaram, tem que ter grupos semelhantes em termos de idade, gravidade da doença do coronavírus – explicou.

Sem evidências

Com isso, Goudouris reafirma que a comunidade científica mundial ainda não tem evidências para afirmar para dizer que um medicamento em particular pode curar o coronavírus.

– Com relação à cloroquina o que a gente tem são resultados dúbios e de estudos que não foram bem feitos, por óbvio, a gente tá no meio de uma pandemia. Esses estudos bem feitos são longos, demorados, requerem uma grande quantidade de pacientes. Então, a gente tem resultados duvidosos, e os bons resultados foram obtidos em estudos que, em termos de metodologia científica não são estudos perfeitos – afirmou.

Conforme Ekaterini, a combinação com outros medicamentos também exige investigação.

– Sobre o uso da cloroquina com a azitromicina, são dois medicamentos que podem alterar a função do coração, a descarga elétrica do coração. É proibido dar o medicamento? Não, mas não pode, por exemplo, achar que isso é solução para todos os quadros de pacientes com coronavírus. Na verdade, não tem comprovação de que ele funcione bem, essa é que é a questão – afirmou.

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Polêmica

Nas últimas semanas, o uso da cloroquina para tratar o coronavírus colocou o presidente Bolsonaro e o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta em lados opostos. Bolsonaro faz uma defesa ampla do remédio e Mandetta se mostra reticente sobre o assunto.

Ekaterini Goudouris enfatiza que a questão deve ser encarada como um tema técnico dissociado de qualquer viés político.

– Não tem como a gente discutir isso, essa discussão não é política, é uma discussão técnica, de médicos, de comunidade científica, não é uma discussão política. Não tem nada a ver se você gosta de um ou não gosta do presidente… A questão é sobre a saúde da população – afirmou.

Conforme Ekaterini, diversos medicamentos e métodos estão sendo testados para tratar o coronavírus. Um deles é o uso da imunoglobulina hiperimune policlonal, que separa anticorpos presentes no plasma do sangue de quem se recuperou do coronavírus, mas todos ainda precisam de tempo e estudo para se consolidarem como cura para a doença.

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Ouça a entrevista: