Responsável por inquéritos policiais que investigam a farra do boi, entre eles a que envolve a morte de Jamisson Amarildo dos Santos, em fevereiro deste ano, em Bombinhas, litoral Norte, a delegada Luana Backes defende mais ações de educação e conscientização contra a prática em Santa Catarina. Confira os principais trechos da entrevista:

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O que a polícia apurou sobre a morte de Jamisson Amarildo dos Santos?Ele participou de uma farra do boi no dia 24 de fevereiro, foi vítima de uma chifrada, encaminhado à policlínica de Bombinhas e de lá ao Hospital Ruth Cardoso. Ficou internado até o dia 27 de fevereiro, quando veio a óbito. A Polícia Civil só teve conhecimento dos fatos no dia 27, quando os familiares vieram registrar boletim de ocorrência, porque o hospital não libera o corpo sem que seja para o IML porque se trata de uma morte violenta, onde tem que ter o exame cadavérico.

O jovem estava espontaneamente na farra do boi?

Pelo histórico da família, inclusive um dos irmãos dele foi indiciado num inquérito policial justamente pela farra do boi por maus tratos contra animais no ano passado. Tudo indica que estava por livre espontânea vontade, mas isso tudo vai ser apurado no inquérito.

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Essas pessoas podem responder por quais crimes?

O inquérito apura lesão corporal seguida de morte e as pessoas podem responder pelo crime de maus tratos com animais se ficar comprovado que participaram da farra do boi e temos que ver a medida de culpabilidade de cada um no fato que acabou acarretando na morte da vítima.

O fato aconteceu no mesmo local em que no ano passado a Polícia Civil indiciou 12 pessoas…

Exatamente. No ano passado instauramos inquérito policial após um boi ter sido encontrado na orla da praia do Canto Grande, já bastante abatido, machucado. Através de imagens de Facebook, onde aparecia o brinco do boi, conseguimos iniciar investigação que culminou no indiciamento de 12 pessoas contra animais e associação criminosa, mais nove pessoas dessas 12 por corrupção de menores, já que alguns adolescentes participaram.

Tem a tradição envolvida. Há sensação de mãos atadas vendo que não é só um caso policial?

Na verdade é uma questão cultural, de educação. Muitos desses jovens, se for olhar no inquérito dos indiciados ano passado e a própria vítima desse ano, a faixa etária é de 18 anos a 30 ou 35 anos. Toda aquela antiga geração que cultuava como sendo tradição já passou. Atualmente quem fomenta a farra do boi nessa localidade são os jovens. Tem que investir mais na educação, conscientizar que farra do boi não é tradição, é crime, e que essa brincadeira pode custar vidas, não só de pessoas, mas de animais.

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A farra do boi então continua provocando mortes em SC. O que fazer?

Ainda continua provocando morte, porque não é a simples associação da farra do boi. Ela é praticada em local ermo, no meio do mato, sem qualquer infraestrutura, as pessoas estão alcoolizadas ou fazem uso de entorpecentes e geralmente acontece de madrugada e durante à noite. Somando todos os fatores tem-se que é uma brincadeira muito perigosa que já ceifou várias vidas.