Responsável por coordenar a pesquisa arqueológica na obra do elevado do Rio Tavares, em Florianópolis, Osvaldo Paulino da Silva afirma que a descoberta de um esqueleto pré-histórico completo e bem preservado na última quarta-feira foi um prêmio para a cidade e a comunidade científica. Após quase três anos trabalhando no local, ele diz que foi gratificante encontrar a ossada da mesma forma que foi enterrada há mais de mil anos: o corpo foi sepultado com a barriga voltada para baixo.

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— É muito importante porque estávamos há três anos coletando materiais de sítios arqueológicos e em algum momento chegaram a criticar as escavações, alegando que estariam atrasando a obra. Esse esqueleto no final do trabalho foi, digamos, um prêmio que a equipe, a cidade e a comunidade científica receberam. Pois esse é mais um elemento para se analisar, um arquivo que estava lacrado e nós ontem conseguimos abri-lo após três mil anos, talvez até cinco mil anos, ainda não se sabe — comemora.

O trabalho de arqueologia na obra foi contratado pela Prefeitura de Florianópolis para atender uma exigência feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que o elevado está sendo construído sobre sambaquis registrados no governo federal. Durante o período, o trabalho dos arqueólogos se adaptou ao cronograma de desapropriações, com objetivo de não atrasar a entrega da obra.

Índios escolheram região do Rio Tavares há 1,5 mil anos

Essa não foi a primeira descoberta arqueológica no local. Resquícios de ossos de humanos e grandes mamíferos — como golfinhos, tubarões e até baleias — foram achados nos últimos meses. Da Silva explica que a região próxima ao atual bairro Rio Tavares era muito povoada pelos índios por conta da posição geográfica, já que ocupavam uma área próxima à bacia hidrográfica do Rio Tavares. Além disso, tinham o oceano Atlântico de um lado e a baía sul de outro.

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Como exerciam atividades de caça e pesca para sobreviver, o arqueólogo explica que o acesso rápido aos rios tornava-se muito importante para conseguir alimentos. A proximidade com a água também era fundamental porque os índios produziam canoas para realizar o deslocamento entre os povoados que ocupavam regiões próximas.

Por consequência, os habitantes construíram diversos sambaquis próximos à região do Rio Tavares para armazenar materiais. Os locais se tornaram sítios arqueológicos e, após diversas pesquisas, foram registrados no governo federal — o esqueleto encontrado na quarta-feira estava no interior do Sambaqui do Rio Tavares III.

— O Rio Tavares tem uma das maiores densidades de sambaqui por quilômetro quadrado de toda a Ilha de Santa Catarina. Por aqui encontramos sambaqui no aeroporto, próximo ao Canto da Lagoa, perto da base aérea, na Tapera, no Ribeirão da Ilha e outros já destruídos no Carianos e perto do estádio da Ressacada — explica.

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Grupo abandonou o local há 1,5 mil anos

Após um longo período de povoação, os índios que ocupavam o local onde atualmente ocorre a obra do elevado do Rio Tavares se deslocaram há cerca de 1,5 mil anos, de acordo com Osvaldo Paulino da Silva. Ele afirma que esse fluxo migratório explica o motivo da equipe de arqueologia que trabalha no local ter certeza que se trata de um esqueleto daquela época.

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— Ele foi encontrado no interior de um sítio arqueológico que foi cronologicamente abandonado pelo próprio grupo há 1,5 mil anos. Ou seja, os sambaquis deixaram de ser ocupados por seus habitantes há muito tempo, em um período considerado pré-histórico pra nós. Se fosse um corpo deixado lá recentemente, ainda teria marcas de algum material ou vestígio de roupas — afirma.

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