Uma interceptação telefônica realizada na quarta (22), dia em que Milton Ribeiro foi preso, reforça a tese da Polícia Federal de que o ex-ministro foi informado com antecedência sobre a possibilidade de ocorrer uma operação contra ele.

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Assim como a conversa de 9 de junho, quando Ribeiro afirmou ter sido avisado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a suspeita de busca e apreensão contra ele, esse novo áudio indica que sua esposa também estava a par da possibilidade da ação policial.

Na conversa de Myrian Ribeiro com um interlocutor de nome Edu, eles abordam a situação do ex-ministro.

Segundo a esposa disse ao interlocutor, Ribeiro “não queria acreditar”, mas os “rumores do alto” apontavam que uma operação iria ocorrer.

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— Ele tava, no fundo ele não queria acreditar, mas ele estava sabendo. Para ter rumores do alto é porque o negócio estava certo — disse a esposa de Ribeiro, no telefonema.

Segundo a PF, a ligação leva a “crer que Milton Ribeiro teria conhecimento de uma possível operação policial”, fato que já estava na mira dos investigadores por causa de outras conversas do ex-ministro, entre elas uma “que teria tido com o presidente da República com este mesmo teor”.

A suspeita de interferência de Bolsonaro e de vazamento da operação Acesso Pago, que prendeu Ribeiro e pastores no caso do balcão de negócios no Ministério da Educação, embasaram a decisão do juiz Renato Borelli desta sexta (24) de enviar o caso para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Em conversa em 9 de junho com sua filha, Ribeiro disse que havia falado com Bolsonaro naquele dia e que o presidente teria dito estar com “pressentimento” de que iriam atingi-lo por meio de uma investigação contra o ex-ministro.

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— Hoje o presidente me ligou, ele está com pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que tenho mandado versículos para ele — disse Ribeiro, na conversa revelada pela GloboNews e confirmada pela Folha de S.Paulo.

Questionado pela filha sobre se Bolsonaro queria que o ministro parasse de enviar mensagens, Ribeiro negou e citou a suspeita levantada pelo presidente. 

— Não, não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste — afirmou.

Um dia após ser preso em operação da Polícia Federal sobre um balcão de negócios montado no Ministério da Educação (MEC), o ex-ministro Milton Ribeiro foi solto por decisão da Justiça.

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O juiz federal Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), decidiu na quinta (23) pela revogação da prisão preventiva do ex-ministro e dos demais detidos na operação Acesso Pago, entre eles os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ambos ligados a Bolsonaro.

Ribeiro é investigado pelas suspeitas de crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência, num caso que enfraquece ainda mais o discurso anticorrupção de Bolsonaro.

Ainda na quinta, Bruno Calandrini, delegado da PF responsável pelo pedido de prisão, afirmou em mensagem enviada a colegas que houve “interferência na condução da investigação” e citou tratamento diferenciado ao ex-ministro, que não foi transferido para a sede da corporação em Brasília -como havia decidido na quarta o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal em Brasília.

Já Ney Bello, que revogou as prisões, está em campanha para ser indicado por Bolsonaro para uma das duas vagas de ministros abertas no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

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*Reportagem de Fabio Serapião e José Marques

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