O governo do Espírito Santo multará a mineradora Samarco pelos danos causados pela enxurrada de lama que chega ao Estado, advinda do rompimento de duas barragens em Mariana (MG). A multa será proporcional ao patrimônio da empresa, acrescida de valores calculados em cima dos danos, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Espírito Santo. De acordo com o secretário Rodrigo Júdice, a autuação será lavrada nos próximos dias.

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Na terça-feira, a Usina de Mascarenhas, em Baixo Guandu, noroeste capixaba, abriu três comportas, como estratégia para diminuir os efeitos da enxurrada de lama das barragens da Samarco. O Rio Doce registrou elevação de um metro, mas ainda sem levar sujeira. A manobra deve atrasar a enxurrada até sexta-feira.

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O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), disse que o Estado já notificou a empresa Samarco sobre os possíveis danos ambientais.

– Notificamos a empresa para ações que ela deve exercer, no abastecimento da água e na necessidade de monitorar a qualidade da água. Estamos trabalhando para avaliar todos os danos ambientais. E eles não são pequenos, na flora e fauna – afirmou.

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– Evidentemente que a nossa preocupação maior é amortecer o impacto da passagem dessa onda pelos municípios, mas estamos agindo em todas as frentes, até no apoio ao governo de Minas. Já deslocamos uma equipe para Mariana para tentar minorar o sofrimento dos mineiros nesse momento difícil, delicado e trágico – completou.

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O Ministério Público do Espírito Santo (MPE-ES) também acredita que a responsabilidade pela enxurrada de lama é totalmente da Samarco, como afirma a promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente, Isabela de Deus Cordeiro.

– Nós entendemos que a responsabilidade não é dos municípios, tampouco do Estado. O município pode colaborar com informações, mas a responsabilidade por adotar uma postura de protagonismo é da mineradora. Para o MPE, essa lama já provocou um grande problema – observou.

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Já o promotor de Justiça Marcelo Volpato destacou os danos que a lama deve causar ao litoral do Espírito Santo quando desaguar no Oceano Atlântico.

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– Será um grande dano, e a longo prazo, sem conhecimento do que vai acontecer no futuro – ressaltou.

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A Samarco mantém a informação de que trabalha para minorar os danos e ajudar as vítimas. Anteriormente, a empresa já havia afirmado ter seguro para acidentes como o que aconteceu nas Barragens de Fundão e Santarém. Entretanto, não detalhou valores.

A agência de notícias Reuters aponta que a apólice de danos materiais, que tem como principal responsável a americana ACE, superaria R$ 1 bilhão. Já o seguro de responsabilidade civil seria feito pela Allianz. Nenhuma das empresas comentou o assunto. Dessa forma, não fica claro se eventuais perdas de receitas, com a paralisação da mina após o acidente, estão cobertas pelas apólices.

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Crime ambiental

A revolta contra a mineradora chegou ao Legislativo capixaba. O deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD-ES) disse que vai pedir ao Ministério Público Federal (MPF) a prisão do presidente da Samarco, pois, segundo ele, trata-se de um crime ambiental. E não é por tratar-se de uma grande empresa que a punição deve ser diferenciada para o mesmo tipo de crime.

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– Acredito que o tratamento feito a diretores e ao presidente da mineradora deve ser igual ao de um produtor rural ou pescador. Um catador de caranguejo, por exemplo, se faz a cata no período do defeso, é preso. Por que uma grande empresa que polui de forma indiscriminada deve ter apenas a cobrança de multa? – questionou.

Veja imagens de Bento Rodrigues, em Mariana (MG):

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População de Colatina “caça” água potável e caixas d’água

A nova expectativa é de que uma onda mais concentrada de rejeitos atinja Colatina, no Espírito Santo, na sexta-feira ou no sábado.

– O novo prazo nos dá tempo para aperfeiçoar o plano emergencial – disse o prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski (PT).

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Deptulski desistiu da ideia inicial de fazer um rodízio, já que não haverá volume suficiente.

– Pensamos agora em instalar pontos de coleta com caixas de 10 mil litros – salientou.

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Assim, locais prioritários, como hospitais e presídios, devem receber auxílio de caminhões-pipa. No entanto, o adiamento não arrefeceu a busca por água potável. Na tarde desta terça-feira, a empregada doméstica Maria da Conceição, 60 anos, tentava havia quatro horas encontrar algum lugar em que pudesse comprar um garrafão de 20 litros.

– Estou na rua desde cedo e nada – contou.

Ela se deparou com um caminhão que transportava o produto e ficou feliz ao conseguir concretizar a compra por R$ 9. Distribuidoras da cidade faziam listas de espera.

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Quem também teve de enfrentar a demanda intensa foi o empresário Wellington Bernardina, 54 anos. Dono de uma loja de construção, viu seu estoque de caixas d’água que deveria durar um mês ser vendido em dois dias.

– É o tipo de lucro que a gente prefere não ter – lembrou.

Foram 60 caixas d’água (a R$ 240) em menos de um dia. E quem não conseguiu comprar caixa extra, como José Albano da Rocha, de 72 anos, se virava do jeito que dava: com panelas, baldes e máquina de lavar.

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– Só Deus sabe o que vem por aí – pontuou.

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