“Que lugar impressionante!” “Que dia ensolarado!” Nos 15 segundos de saudação de Barack Obama a Vladimir Putin na entrada do Palácio Constantino, a 15 quilômetros de São Petersburgo, especula-se que só comentários desse tipo podem ter sido balbuciados entre sorrisos protocolares que procuraram mascarar a visível tensão entre os dois presidentes.
Continua depois da publicidade
Com uma lista de divergências envolvendo Rússia e Estados Unidos – do asilo russo ao americano que vazou o programa de espionagem dos EUA, passando por críticas à violação de direitos humanos até o possível ataque à Síria -, teve início ontem a oitava cúpula do G-20.
Apesar de o evento ter um propósito econômico, a Síria é o assunto dominante nas conversas paralelas, diante da tentativa dos EUA e da França de intervir militarmente contra o regime de Bashar al-Assad. Na abertura, separado de Obama na mesa redonda pelos líderes da Austrália e da Indonésia, Putin disse ter recebido pedidos de vários países para que o conflito sírio (que matou mais de 110 mil pessoas) fosse incluído na agenda. Sugeriu que o jantar de trabalho, horas depois, concentrasse tal debate.
Os europeus, segundo relatos dos correspondentes estrangeiros, tentavam encontrar formas de dar apoio a Obama, mas sem se comprometer com uma operação militar de consequências imprevisíveis. Pouco antes do jantar, os representantes dos cinco europeus presentes (França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália e Espanha) se reuniram com os da União Europeia para tentar encontrar uma posição comum. Desses, somente Paris apoia a intervenção. A chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que “não vai se associar a uma ação militar”. Após a sobremesa, o chefe do governo italiano, Enrico Letta, tuitou: “Concluída agora a sessão (do G-20), onde foi confirmada a divisão sobre a Síria”.
Obama tem escassa margem de manobra internacional depois de ter ameaçado a Síriapor ultrapassar a “linha vermelha” das armas químicas. Os EUA sustentam que o regime sírio matou, em 21 de agosto, 1.429 pessoas em ataques com agentes neurotóxicos proibidos pela ONU e que precisa ser punido por isso. Ontem, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, que foi obrigado pelo parlamento a recuar no plano de apoiar a intervenção militar, apresentou um relatório de inteligência que também aponta uso de gás sarin pelo regime sírio. Ontem, os EUA afirmaram que Turquia e Arábia Saudita estariam dispostos a utilizar a força contra a Síria, além de Austrália, Albânia, Canadá, Dinamarca, Kosovo, Polônia e Romênia.
Continua depois da publicidade
Na viagem, Obama mantém também a cabeça no Congresso, em Washington. Nos intervalos, telefonaria para deputados e senadores para costurar a votação que autoriza o ataque à Síria. Há tendência de rejeição na Câmara dos Representantes.
A ONU e o Vaticano aproveitam a reunião do G-20 para atuar em favor da paz. A organização encarregou o enviado especial, Lakhdar Brahimi, para convencer os líderes a promover a conferência para a Síria, chamada de Genebra-2, que está emperrada pelas posições antagônicas de EUA e Rússia. A Igreja se mobiliza de forma inédita desde sua campanha contra a guerra do Iraque, em 2003. O papa Francisco enviou uma carta endereçada a Putin, atual presidente do G-20, na qual faz um apelo contra qualquer tipo de solução armada na Síria.