Em 1965, no ponto mais alto de suas carreiras, o boxeador Muhammad Ali e o líder dos direitos civis Martin Luther King se uniram na oposição à Guerra do Vietnã.

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Na condição de críticos do envolvimento americano no Sudeste Asiático, os dois se tornaram alvos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) por suspeita de subversão.

É o que dizem documentos recentemente desclassificados da NSA, segundo revelação feita ontem pelo National Security Archive, centro de estudos ligado à Universidade George Washington. Os dossiês da operação Minaret, que durou de 1967 a 1973, revelam que, além de Luther King e Ali, outras personalidades contrárias à Guerra do Vietnã foram vigiadas, como o jornalista Tom Wicker, o ativista Whitney Young, o humorista Art Buchwald e o senador Frank Church.

A existência do monitoramento era conhecida desde 2008, mas, após decisão judicial, a NSA foi obrigada a divulgar mais informações. Ainda assim, a maioria dos 1,6 mil alvos permanece secreta por risco de “danos à segurança nacional”, sustenta a agência.

Ao longo dos documentos, descobre-se que mesmo servidores da NSA eram contra o monitoramento, que envolvia grampos telefônicos e vigilância durante viagens ao Exterior. Um agente descreveu a Minaret como “inescrupulosa, se não simplesmente ilegal”. Foram preocupações como essa, supõe o National Security Archive, que acarretaram seu cancelamento em 1973, no início da estrondosa queda do governo de Richard Nixon.

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O programa de espionagem tinha como objetivo inicial observar suspeitas de ameaças ao presidente Lyndon Johnson. Depois, foi aplicado a traficantes de drogas e, finalmente, de acordo com a NSA, para “terrorismo doméstico”.

No contexto turbulento de 1967, ano marcado pelos protestos nas ruas por direitos civis e igualdade racial e pelas manifestações contra a guerra nos EUA, o presidente ordenou a vigilância de personalidades pacifistas para descobrir se eles ou suas organizações tinham o apoio de países hostis – em plena Guerra Fria, o auxílio da antiga União Soviética era o maior temor.

Quem foram os espionados

Martin Luther King era crítico da Guerra do Vietnã desde a criação da lista em 1967, e espionado pelo FBI desde 1963.

Whitney Young, que advogava por igualdade racial na mesma época que King, aderiu à moratória de outubro de 1969 pelo fim da Guerra do Vietnã.

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Tom Wicker, chefe da sucursal do The New York Times em Washington, foi contra a guerra em sua coluna de opinião.

– O senador democrata Frank Church, crítico moderado da guerra, foi investigado por Johnson por suspeitas de ligação com Moscou.

– O humorista Art Buchwald, que escrevia para o Washington Post, notabilizou-se pelas fortes e irônicas críticas ao conflito.

– O boxeador Muhammad Ali se tornou alvo da NSA e chegou a perder o cinturão por seus comentários contra a guerra e por ter se recusado a lutar no Vietnã.

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