Com filmagens, monitoramento à distância e no legítimo papel de investigadores, policiais militares nocautearam o comando do tráfico de drogas do Morro do Mocotó, na área central da Capital. Eles conseguiram a condenação na Justiça dos principais líderes do Beco da Lixeira, ponto frequentado dia e noite por grande quantidade de usuários de classe média e também de consumidores de crack envolvidos em pequenos furtos.

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José Castilho Martins Junior, 25 anos, apontado como chefe do tráfico no morro depois da prisão de Denilson da Silva, pegou a pena mais alta do grupo: 11 anos e 1 mês de reclusão. Os comparsas dele, Cleber de Souza, o Mão Branca, Arnaldo da Silva Ferreira e André Gouveia Coelho terão de cumprir nove anos e quatro meses de prisão cada. Os condenados ainda podem recorrer da sentença em tribunais superiores.

A sentença é do juiz da 2ª Vara Criminal, Luis Francisco Delpizzo Miranda. O magistrado proferiu a decisão após analisar investigação feita por policiais do 4º Batalhão da PM, em ação comandada pelo tenente Rafael Vicente.

Castilho havia sido capturado em janeiro, num casarão na Barra da Lagoa, quando disse que estava de férias e negou envolvimento com o tráfico. No começo do mês, o advogado dele entrou com habeas-corpus no Tribunal de Justiça argumentando que Castilho sofre constrangimento ilegal com a prisão. O pedido de liberdade foi negado pelo desembargador Jorge Schaefer Martins.

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Além de considerar a ação dos traficantes como a de uma organização criminosa, a sentença do juiz Miranda repercutiu nos quartéis, acima de tudo por legitimar o poder de investigação da Polícia Militar. O papel de investigar, em tese, caberia à Polícia Civil.

Os PMs fizeram quase 50 horas de filmagens da venda de drogas no morro. Havia flagrantes até de clientes engravatados descendo a viela. Numa das batidas após a campana eletrônica, foram apreendidas 52 pedras de crack. A quantidade é considerada pelas defesas insignificante para a configuração do delito. Para a Justiça, é uma estratégia adotada pelos acusados de fracionada a droga para evitar grandes apreensões pela polícia.

Assista o vídeo do flagrante da venda e consumo de drogas no Morro do Mocotó

“Todos os vídeos demonstram o intenso e conhecido tráfico de drogas realizado no “Beco da Lixeira”, fato muito bem descrito no relatório da autoridade policial como um “mercado persa” de drogas”, comparou o magistrado.

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O comandante do 4º Batalhão da PM, tenente-coronel Araújo Gomes, acredita que o movimento do tráfico de drogas caiu 80% no Mocotó desde a prisão dos líderes. Nos últimos meses, 43 pessoas foram detidas nas imediações. O lugar ficou 60 dias ocupado 24 horas por PMs.

– Com este tipo de ação, que resultou na condenação, sufocamos o poder financeiro do tráfico. É algo que causa impacto na compra de armas e carros para assaltos e também na saúde pública – ressaltou Gomes, prometendo trabalho semelhante em outros morros da Capital.

O tráfico no Mocotó também recrutava crianças da comunidade , detalhe que ficou constatado nas filmagens. Geralmente, os menores eram filhos de pais usuários de crack e de famílias desestruturadas. Isso tudo a poucos metros do Hospital de Guarnição de Florianópolis, de creche, Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa.

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