Às 4h48min, Sarah Kane costumava acordar. Era a hora em que ela acreditava haver mais suicídios no hospital psiquiátrico em que viveu os últimos dias. Foi nele que a dramaturga britânica escreveu 4h48 Psicose, peça que a Marcos Damaceno Companhia de Teatro está levando para cidades catarinenses pela Rede Sesc de Teatro.
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No espetáculo, a protagonista é a mente conturbada de uma mulher que já não distingue o mundo real daquele criado pela imaginação, perturbado por vozes e figuras monstruosas. O cenário, uma fria clínica psiquiátrica.
Nenhuma semelhança aqui é coincidência: a autora nunca chegaria a ver o texto de 4h48 ser encenado – após conclui-lo, ela tirou a própria vida enforcando-se no banheiro do hospital. Aos 28 anos, não resistiu às inúmeras crises de depressão que, se a impediam de viver, nunca bloquearam sua criação.
Sarah não deixou indicações de nomes para as vozes do espetáculo, nem mesmo a quantidade de personagens que ele deveria ter. Essa não foi uma falta provocada pela vida breve, mas era a proposta da escritora que, em pouco mais de quatro anos de carreira, deixou cinco peças que colaboraram para revolucionar o teatro moderno.
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No caso da companhia Marcos Damaceno, a escolha foi por dois atores em cena: a atriz Rosana Stavis – que participou da primeira montagem da peça na companhia, em 2004, e recebeu por ela o prêmio Gralha Azul, maior reconhecimento do teatro paranaense – contracena com Marcelo Bagnara, que interpreta o médico.
O formato escolhido pelo grupo foi o de semiarena e, como já é comum nas apresentações dirigidas por Marcos Damaceno, recebem poucos recursos cênicos, deixando os atores como o centro do espetáculo.
Reflexão, não diversão
Se a obra de Sarah Kane já é permeada pela violência extrema e por situações chocantes, 4h48 Psicose ultrapassa essa fronteira. É o trabalho mais curto e fragmentado da autora e discute a questão da depressão a fundo: fazendo uso da própria experiência, ela apresenta detalhes sobre as etapas da doença, do tratamento e das drogas.
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Não é um mergulho fácil este que a plateia é convidada a fazer quando se senta para assistir à discussão entre paciente e médico vividos por Rosana e Marcelo. Segundo a atriz, é comum que espectadores deixem a sala antes do fim do espetáculo.
Isso não preocupa a companhia e o diretor, que pretendem provocar reflexões e não divertir. Então, baseiam-se no que a própria Sarah dizia sobre seus trabalhos: “Eu odeio a ideia do teatro servir como passatempo”.
Agende-se
O QUÊ: espetáculo 4h48 Psicose, da Marcos Damaceno Companhia
de Teatro
QUANDO: terça-feira, dia 10, em Jaraguá do Sul; quarta-feira, dia 11, em Joinville; na sexta-feira, dia 13, em Lages; e no sábado, dia 14, em Chapecó; sempre às 20h, exceto em Lages, onde a apresentação começa às 20h30min
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ONDE: nos teatros do Sesc (confira os endereços abaixo)
QUANTO: gratuito, com entradas distribuídas uma hora antes nas bilheterias dos teatros