No palco, neste fim de semana, Bia Alvarez se desconstruirá. No lugar dela, surgirá Everline Flore, uma empreendedora artística desempregada que busca soluções para sua rotina enquanto lida com o sentimento de viver deslocada na sociedade. Será a apresentação da palhaça-personagem ao mundo, na estreia do espetáculo Só uma Palhaça Só. Com um pezinho na autobiografia, caminho natural das peças clownescas, ela faz rir e refletir sobre o mundo contemporâneo.
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A sala da casa de Everline Flore é o cenário em que ela conta sua trajetória de vida. Diante dos diagnósticos terapêuticos e de se sentir definitivamente rotulada, Everline relembra histórias da sua infância, em meio a um emaranhado de sensações, questionamentos e brigas com cigarros, livros e bonecas. Sua busca está em encontrar a própria verdade.
– É, de certa forma, um espetáculo autobiográfico, porque trata de temas da minha vida, mas com o olhar da palhaça – afirma Bia.
Só uma Palhaça Só é uma peça de palhaçaria feminina. O fato de ser um solo com uma atriz pode tornar a afirmação uma obviedade mas, colocada no contexto histórico, faz parte de uma vitória recente, já que pouco mais de duas décadas separam o momento em que mulheres ganharam espaço como clowns da atualidade.
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– A palhaçaria começa com os homens, no circo, enquanto às mulheres não era permitido que fizessem este papel em nenhum gênero. E a palhaçaria feminina é diferente. Foram as atrizes da companhia As Marias da Graça que começaram a mudar isso no País.
Não à toa, é uma destas pioneiras que dirige o espetáculo de Bia – ou Everline. A palhaça Carla Conká, uma das “Marias da Graça”, assumiu o papel de trabalhar a criação da personagem e da peça depois que as atrizes se conheceram no Vértice 2012, um encontro internacional de teatro para mulheres. Na ocasião, Bia participou de uma oficina com Carla e Vera Ribeiro, do grupo precursor.
– Me apaixonei pela forma como elas conduziam o processo e, a partir daí, mantivemos contato. Em janeiro, passei 30 dias no Rio em uma imersão de trabalho bem profunda para criar a peça com Carla – conta Bia.
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Foi nesta época que o projeto, que ainda nascia, tornou-se conhecido na cena cultural de Joinville. A atriz conheceu o site de financiamento coletivo Catarse e decidiu testá-lo para conseguir recursos para a montagem. A meta não foi atingida, mas transformou o projeto em viral nas redes sociais.
Desta forma, Só uma Palhaça Só conquistou visibilidade para conquistar colaboradores interessados em ajudar na equipe técnica do espetáculo. Assim, pelo menos no nascimento, Bia/Everline não estava tão sozinha: além de tudo, ela será o marco do lançamento do Coletivo Impar de Teatro, novo núcleo do IMPAR – Instituto de Pesquisa da Arte pelo Movimento que assume o lugar da Cia. Joinvilense de Teatro.
O Coletivo Impar de Teatro reúne a jornalista e produtora Iraci Seefeldt, a atriz e terapeuta ocupacional Nathielle Wougles, o ator e diretor Robson Benta, além de Bia, e pretende criar um ambiente de experimentação das possibilidades do pensamento e do trabalho coletivo, sustentado em processos de investigação no campo das artes cênicas, em um viés contemporâneo e atento às questões antropológicas, políticas e sociais que permeiam a vida humana.
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AGENDE-SE
O QUÊ: estreia de Só Uma Palhaça Só.
QUANDO: sexta, sábado e domingo, às 20 horas.
ONDE: Galpão de Teatro da Ajote, na Cidadela Cultural Antarctica (rua Quinze de Novembro, 1445).
QUANTO: R$ 20, com 50% de desconto para idosos, estudantes e integrantes da Ajote. Ingressos antecipados na Livraria O Sebo e, na hora, na bilheteria do Galpão da Ajote (a partir das 19 horas).
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos.