‘Foi então que compreendi que só em mim havia morte e que tudo estava profundamente vivo/ Só então vi as folhas caindo, os rios correndo, os troncos pulsando, as flores se erguendo/ E ouvi os gemidos dos galhos tremendo, dos gineceus se abrindo, das borboletas noivas se finando/ E tão grande foi a minha dor que angustiosamente abracei a terra como se quisesse fecundá-la/ Mas ela me lançou fora como se não houvesse força em mim e como se ela não me desejasse/ E eu me vi só, nu e só, e era como se a traição tivesse me envelhecido eras’.

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O trecho marcado pela angústia de um homem apaixonado à procura da amada faz parte do poema, composto por 107 versos, de Vinícius de Moraes. Ariana, a Mulher foi publicado em forma de livro em 1936 e agora é o sopro que dá vida ao espetáculo Ariana, em pré-estreia nesta quinta-feira à noite, no Teatro Juarez Machado.

Treze bailarinos da Cia. Jovem da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil sobem ao palco comandados pela coreógrafa Cassi Abranches. Ela veio diretamente de São Paulo para montar o segundo ato do evento, com duração de 20 minutos. Para isso, teve apenas 20 dias de ensaio com o grupo – tempo bastante desafiador mesmo para uma equipe experiente. O primeiro ato traz ao público apresentações de dança contemporânea já encenadas pela companhia.

– Gosto da ideia de deixar cada um por si, porque a recepção e os sentimentos da plateia dependem do momento e das experiências de quem estiver nos assistindo. De minha parte, no entanto, enxergo o espetáculo como algo singelo, romântico e delicado – revela Cassi.

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Para elaborar a coreografia, ela procurou referências na literatura que valorizassem o feminino – embora o balé conte com sete homens no elenco. Foi assim que encontrou Vinícius.

A partir da escolha do poema que norteia a narrativa, Cassi mergulhou no universo musical, especialmente o erudito, para compor a trilha sonora do espetáculo – embalado por canções dos compositores brasileiros Marlos Nobre, André Mehmari, Naná Vasconcelos e Marcos Suzano.

A apresentação é o reflexo de como a coreógrafa interpreta o poema. Não se trata, portanto, de uma encenação literal. Nos figurinos criados por Janaína Castro, Cassi identifica pelas cores cada uma das Arianas mencionadas no poema – mas, para ela, a verdade é que todas são parte da identidade única e múltipla, ao mesmo tempo, que dá origem à Ariana alvo de profundo e desesperado amor retratada no texto do poeta.

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O QUÊ: espetáculo de dança contemporânea Ariana.

QUANDO: 05/09, às 20 horas.

ONDE: Teatro Juarez Machado (avenida José A. Vieira, 315, Centro).

QUANTO: R$ 20, com 50% de desconto (meia-entrada) válido para estudantes, idosos e deficientes físicos, mediante a apresentação de documento previsto por lei. À venda na recepção da Escola Bolshoi.

Confira aqui uma entrevista com a coreógrafa Cassi Abranches.