Até há alguns meses negado pelo governo e pela Petrobras, um novo aumento no preço dos combustíveis começa a ganhar forma, percentual e prazo. Uma inflação mais comportada e a disposição de se antecipar ao ano eleitoral podem levar à autorização de uma elevação de 6% na gasolina ainda neste ano.
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Nesta quinta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, considerou “justo” um reajuste nesse percentual que iria “zerar” o pedido da Petrobras no início do ano de recuperação de 13% – em janeiro, a gasolina subiu 6,6% nas refinarias. Na terça-feira, a presidente da estatal, Graça Foster, disse que o combustível pode subir, mas não antecipou quanto ou quando. Se o aumento nas refinarias for confirmado em 6%, a alta nas bombas seria de 4,5%, conforme a Tendências Consultoria.
– Há três anos, o preço dos combustíveis vendidos no Brasil está defasado em relação aos internacionais, e como a Petrobras importa petróleo e gasolina para atender à demanda doméstica, tem enfrentado prejuízos bilionários – explica Walter de Vitto, especialista em combustíveis da Tendências.
Nos primeiros oito meses do ano, o país importou US$ 28,7 bilhões em petróleo e combustíveis, conforme o Ministério do Desenvolvimento, avanço de 7,5% em relação a igual período de 2012. A disparada do dólar no Brasil e o aumento no preço do barril no Exterior neste ano têm tornado essa conta alta: a Tendências estima que a defasagem no valor da gasolina até o final de setembro era de 28%, diferença que cedeu nos últimos dias em razão do alívio no câmbio.
– O governo tem recebido uma pressão grande de investidores pelo reajuste e, ao mesmo tempo, sobe os juros para controlar a inflação em outras frentes. Há espaço e ambiente para um aumento ainda neste ano – afirma Luiz Henrique Wickert, analista da Solidus.
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Especialistas estimam alta às vésperas do leilão de Libra
As condições convergem para que a alta venha nos próximos dois meses, concorda Rafael Costa Lima, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo. Em setembro, a inflação acumulada em 12 meses ficou abaixo de 6% pela primeira vez neste ano, o que daria margem para elevar a gasolina.
– Permitindo o reajuste agora, o governo poderia deixar de aumentar o preço em 2014, um ano eleitoral. Além disso, a equipe econômica está ciente de que a inflação não fechará o ano no centro da meta (estabelecido em 4,5%). Então, uma pressão a mais não causaria grande dano – argumenta Costa Lima.
Especialistas projetam o reajuste dos combustíveis às vésperas do dia 21 de outubro, quando está marcado o leilão do campo de Libra, o primeiro do pré-sal. Seria uma forma de acenar aos investidores e às companhias de que o governo está comprometido com a produção de petróleo no Brasil.
Rumo ao aumento
13 de abril de 2013
Graça Foster, presidente da Petrobras, em entrevista a ZH
“Olhando hoje para o quadro do Brent e para a taxa de apreciação do real, para o câmbio, não há previsão de aumento de combustível.”
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27 de setembro
Edison Lobão, ,ministro de Minas e Energia
“Lá atrás, (o ministro da Fazenda Guido Mantega) falou que até o fim do ano alguma coisa poderia vir mais, mas depois disso não se falou mais no assunto.”
29 de setembro
Em seu relatório trimestral, o Banco Central mantém projeção de alta de 5% do preço da gasolina em 2013
8 de outubro
Graça Foster, presidente da Petrobras
“A gasolina pode subir esse ano. Não tem data.”
9 de outubro
Edison Lobão, ministro de Minas e Energia
“A Petrobras não pode reclamar muito, porque o governo sempre ajudou a Petrobras.”
10 de outubro
Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, ao ser questionado sobre a possibilidade de o próximo reajuste completar o percentual pedido pela Petrobras, de 13% (em janeiro, foram 6,6%)
“É, faltariam seis (por cento).”
Os números
Especialistas estimam que a defasagem no preço da gasolina seja de 28%
Desde o final do ano passado, o barril do petróleo no mercado internacional passou de US$ 94,10 para US$ 103,80
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No ano, o dólar subiu 6,5%
Até agosto, a Petrobras gastou US$ 28,7 bilhões para importar petróleo e seus derivados
A gasolina já teve uma alta de 6,6% em janeiro deste ano
O novo aumento da gasolina pode ser de 6% ou 7%
No ano passado, a gasolina subiu 7,8%, mas o governo zerou a Cide e anulou o impacto ao consumidor
O diesel foi reajustado duas vezes este ano pela Petrobras, somando 10,7%
Uma nova alta de 6% na gasolina elevaria o imediatamente o IPCA em 0,2 ponto percentual, conforme o Instituto de Pesquisas Econômicas da USP