A democratização do luxo foi o tema de destaque da palestra de Gilles Lipovetsky, sexta-feira, no Hotel Camboriú Internacional. O evento realizado pela Luxo Brasil, em parceria com a Maison Du Luxe, reuniu profissionais de moda, empresários do mercado Premium e de luxo e jornalistas especializados.
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A palestra também contou com a participação de Claudio Diniz, diretor da Maison Du Luxe e autor de um dos primeiros livros sobre este segmento no país, O mercado do luxo no Brasil: tendências e oportunidades.
Cláudio Diniz iniciou a palestra traçando um perfil do consumidor brasileiro no segmento. Segundo ele, o novo rico passa pela segunda fase de um milionário institucionalizado: aquela da ostentação. A cultura de luxo brasileira preocupa-se em mostrar as logomarcas de grife ao invés de saber a qualidade do material, sua origem e a mão de obra empregada.
O palestrante disse que o cenário do luxo no país está aquecido e em crescimento. No entanto, o serviço deste segmento é extremamente deficitário, chegando ao ponto de acontecer uma “reimportação” de brasileiros que trabalham nesses serviços em outros países.
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Público quer, cada vez mais, viver emoções
Após a fala de Diniz, foi a vez de Gilles Lipovetsky, referência no mundo acadêmico quando os temas são moda, luxo e consumo. O filósofo francês esclareceu que o novo universo do luxo está mais disperso e mais diverso, na medida em que marcas globais buscam assimilar os atributos específicos deste segmento e os métodos do mercado de massa.
Segundo o teórico da hipermodernidade, por mais que o luxo esteja ligado ao consumo, o poder de compra é pontual e o público quer, na verdade, viver emoções. E deu exemplos disto:
– Um dia estava num táxi e o motorista me disse que todo o ano ele guardava um dinheiro para levar a esposa a um restaurante de alta gastronomia. Isso é a significação que, hoje, mesmo as pessoas que não estão inseridas no contexto de luxo têm interesse nos produtos deste mercado. Por outro lado, o público com alto poder de consumo, quer vivenciar novas sensações. Vejam o exemplo do milionário norte-americano que pagou US$ 20 milhões de dólares para viajar ao espaço! Ele quis apenas ter uma nova experiência, pois não precisa mostrar para ninguém que é rico.
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Para o Brasil, ele prevê que o produto desejado deixará de ser a bolsa ou o sapato de grife; as atenções se voltarão para o corpo e para a beleza. O crescimento será maior na indústria cosmética e antienvelhecimento.
Entrevista Gilles Lipovetsky, Filósofo francês
“Este mercado não tem limites”
Antes de palestrar na conferência New World of Luxury, Gilles Lipovetsky concedeu uma breve coletiva de imprensa no salão de audiências do Mercure Hotel, em Balneário Camboriú. Durante 20 minutos ele conversou com jornalistas e falou sobre o crescimento do mercado de luxo, a resistência do setor frente as crises econômicas na Europa e as dicas para manter o mercado aquecido.
Por que o mercado de luxo não sofre com a crise e os cortes na Europa?
Gilles Lipovetsky – Houve uma democratização do consumo dos artigos do luxo, o que antes era reservado a poucas pessoas. Hoje, muito mais gente tem acesso a esse universo, e os próprios turistas que viajam pelo mundo contribuem para manter esse setor econômico aquecido. O que também se nota é que cresce o número de consumidores que buscam a qualidade do produto, e não somente a relevância da marca. Na Europa, apesar da crise que assola empresas e países, o mercado de luxo vai bem. O varejo no continente ultrapassa 200 bilhões de euros, isso sem contar gastos com automóveis, hotelaria, iates, helicópteros, jatinhos e outros itens luxuosos.
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Diante do crescimento do mercado de luxo, como é possível se destacar e evoluir ainda mais neste segmento?
Lipovetsky – Qualquer pessoa pode ir em um hotel, mas nada impede que os hotéis tenham uma personalidade, seja por meio de restaurante, academia, decoração dos quartos, bar. Então, o que sempre precisa ser feito neste mercado é personalizar para diferenciar da concorrência.
SC tem oferecido cada vez mais imóveis, embarcações e serviços caros, atraindo gente de várias partes do país. Qual é o limite para este mercado?
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Lipovetsky – É possível crescer muito mais, porque este mercado não tem limite. Há companhias aéreas que oferecem um quarto inteiro dentro do avião para o passageiro. Embora o dinheiro destas empresas venha das classes econômicas, ter estes quartos seduz esse consumidor que pode futuramente fazer parte deste mercado.
* Ana Marta é mestre em jornalismo e jornalista de moda.