A selfie está morta. Para o alívio de muitas timelines, foi isso que proclamou a organização do Webby Awards, durante cerimônia considerada o Oscar da internet. Porém, especialistas da área de comunicação digital rebatem o anúncio e atestam: a febre dos autorretratos não vai passar tão cedo.

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A declaração – feita em formato de vídeo, em uma espécie de tributo ao “falecido” – é considerada apressada pela doutora em Comunicação e Informação e pesquisadora de redes sociais na internet, Raquel Recuero.

– A selfie tem muito a ver com a narrativa de si mesmo. É uma forma de expressão bastante imbuída nas práticas cotidianas do mundo online. Não a vejo desaparecendo a curto prazo – afirma a professora.

Narrativa, aliás, que não surgiu em 2012, como aponta o vídeo do Webby Awards. De acordo com a pesquisadora sobre práticas sociais online e doutora em Ciências da Comunicação, Rebeca Rebs, a ideia de se autorretratar é, inclusive, paleolítica: os homens das cavernas já tratavam de fazer isso em pinturas sobre rochas.

– E, mais recentemente, havia o Fotolog. A maioria dos adolescentes tirava foto no espelho, com câmera digital, para postar na rede. Acredito que nunca vai acabar essa ideia de as pessoas gostarem de se ver, de analisar suas próprias identidades através da fotografia. Não há como determinar o fim de um comportamento social – diz.

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:: Selfie já é verbete em dicionários

A grande novidade, potencializada pelo Instagram, foi o batismo com o nome de #selfie. Isso sim, sustenta Rebeca, pode perder vir a perder a graça, tornar-se brega ou ultrapassado, dando lugar a outras hashtags. Ou poderia ocorrer de as pessoas pararem de postar fotos de si mesmas nas redes sociais – o que não necessariamente significaria o fim da prática.

– Se isso acontecer, os internautas com certeza vão encontrar apropriações sociais mais interessantes para o fato de se fotografarem.

Enquanto não se chega lá, o modismo continua e, às vezes, até de maneira exagerada: no vídeo divulgado pelo Webby Awards, selfies controversos, feitos em velórios ou durante situações de acidente, aquecem a discussão sobre superexposição.

– Muitas vezes, as selfies extrapolam os limites da ética e até mesmo do bom senso. O próprio ato de tirar fotos desenfreadamente já está banal. Deveríamos repensar o ato de fotografar – sugere a designer e mestranda em Comunicação e Semiótica, Júlia Almeida.

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Mas os “sem noção” também não são obra da selfie, diz Rebeca.

– Sempre existiram, mas agora aparecem mais devido à rápida difusão de informações que a internet propicia. Acharam uma forma de postar suas loucuras sem serem “agredidos”, já que o conceito de selfie legitima isso.

Os pesquisadores contrapõem os organizadores do Webby Awards, que afirmaram que os autorretratos na internet já tiveram um “ápice fascinante”, mas agora devem sofrer uma “derrocada trágica”. Para os estudiosos, o sentido da selfie – que já rendeu variações como o welfie (autorretratos em grupo), shelfie (fotos das prateleiras e estantes) e as after-sex (selfie pós-sexo) – deve seguir impregnado no mundo virtual. Ainda falta muito, portanto, para a sociedade assistir a esse funeral.