Com intuito de restaurar a credibilidade de sua política econômica, o governo Dilma Rousseff promete economizar 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para pagamento de juros da dívida. São R$ 99 bilhões, dos quais R$ 80,8 bilhões virão da União e o restante de Estados, municípios e estatais.
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Embora bem-vinda, essa meta de economia, também chamada de superávit primário, foi recebida com cautela por especialistas. O objetivo é, ao mesmo tempo, modesto para os padrões seguidos desde a década passada e ambicioso diante da escalada de gastos públicos no mandato de Dilma e da proximidade das eleições. Trata-se da menor economia desde 1998, quando o país ainda não havia iniciado o controle da dívida pública.
– É insuficiente para que mantenha a dívida sob controle. Poderia ter sido mais ousado – avalia Luiz Carlos Lemos Jr., da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) em Minas Gerais, Reginaldo Nogueira, avaliou que o anúncio feito nesta quarta-feira não transmite a ideia de que será feito “um esforço de verdade”.
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– Vejo com algum ceticismo. Se quisesse alcançar o superávit primário, o governo anunciaria um regime de austeridade por três ou quatro anos seguidos – entende Nogueira.
Para tentar cumprir a meta, o Ministério do Planejamento detalhou nesta quinta-feira um corte de R$ 44 bilhões no orçamento da União. A redução atingirá a máquina pública, desde os salários dos servidores até a manutenção dos prédios. A maior fatia do ajuste ficou com as despesas criadas por deputados e senadores, conhecidas como emendas parlamentares, reduzidas em R$ 13,3 bilhões. Também foram cortados R$ 7 bilhões do PAC, programa que inclui o Minha Casa, Minha Vida.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, definiu como “moderada” e “realista” a nova projeção orçamentária. Economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto avalia que o anúncio pelo menos aumentou a transparência em relação às contas públicas.
– O sinal é positivo porque define uma meta clara e mais crível porque ninguém acreditava que o governo seria capaz de cumprir a meta original (de 2,1% do PIB).
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Mantega também revisou a projeção de crescimento do PIB para 2014, de 3,8% para 2,5%. No mercado, já se trabalha com expectativa de 1,8%.
Concursos públicos serão avaliados
O corte de R$ 44 bilhões no orçamento da União poderá interferir na realização dos concursos públicos previstos para este ano e também na nomeação dos aprovados. Nesta quinta, ao anunciar as metas de economia do governo, a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, não foi conclusiva, mas preveniu:
– Estamos fazendo uma avaliação.
Miriam disse que “deve ter, sim, um ajuste na área dos concursos”, em razão do ano eleitoral, que restringe as contratações. A ministra lembrou que nenhum dos aprovados poderá ser nomeado após 5 de julho, devido à legislação. O ato será adiado para 2015.