Motivo constante de preocupação do governo, a inflação pode ter dado uma trégua em julho. A maior oferta de alimentos e a redução na tarifa do transporte público devem empurrar o percentual para próximo de zero, projetam especialistas.
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O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas a queda no custo da cesta básica em todas as capitais do país, informada nesta terça pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), é considerado um indicativo de alívio no bolso. Em Porto Alegre, a cesta caiu 7,06%, puxada principalmente pelo recuo do tomate. O preço médio do quilo passou de R$ 5,39, em março, para R$ 3,17, em julho, queda de 41,2%. O recuo, no entanto, não afastou dos consumidores a sensação de que os preços dos alimentos continuam altos.
Outros sinais de uma inflação mais tímida são o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que em julho ficou em 0,14%, e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que teve deflação de 0,17% no mês.
Se confirmada a projeção do IPCA, o resultado pode fazer a inflação em 12 meses voltar para dentro do limite da meta de até 6,5% estabelecida pelo governo – em junho ficou em 6,7%.
– Julho é o mês em que, tradicionalmente, há uma desaceleração. A safra de alimentos contribui para aumentar a oferta e levar os preços para baixo. É algo pontual, que talvez se estenda até agosto, mas não representa um cenário de arrefecimento na inflação – diz Salomão Quadros, professor de economia da Fundação Getulio Vargas.
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Para a economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, os protestos que ocuparam as ruas do país em junho passado também tiveram efeito na batalha contra a alta de preços.
– A redução de custo no transporte público é importante para o índice de julho, mas tem impacto restrito. Nos próximos meses, o governo não terá essa ajuda. E os efeitos do câmbio ainda nem chegaram – afirma.
Economista da Rosenberg e Associados, Fernando Parmagnani avalia que esse é um entrave neste semestre:
– O impacto do câmbio tem certa defasagem. Aparece primeiro para produtores e fabricantes e, depois, chega aos consumidores. Em junho, o índice de preços ao produtor subiu 1,33%. Logo o efeito se irradia.
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As percepções de moradores de Porto Alegre fazendo compras em supermercados
Gloria Rodrigues, 72 anos
O tomate está mais barato. Deixou de ser diamante para ser pedra preciosa, porque o preço continua alto. A carne está cada vez mais cara. Até o quilo do peixe subiu.
Valdira Ripoll, 73 anos
Eu não percebi nada mais barato. Pelo contrário. O arroz e o feijão, nem se fala. E até o leite. De uns meses para cá, só sobe. Fico pesquisando para ver onde comprar.
Ermelinda Weber, 60 anos
Azeite e açúcar estão mais baratos, mas pouca coisa. O feijão e o arroz, que eu compro toda semana, continuam aumentando. O que importa é sempre procurar as ofertas.
Norilda Knevitz, 53 anos
Um ou outro produto está mais barato, pouca coisa mais em conta. Feijão virou comida de rico: subiu e nada de cair. Não compro mais pela marca, escolho pelo preço.
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