Apontado pelo governo federal como entrave ao crescimento do país, o alto juro bancário deve continuar sofrendo pressão. É que, além de ser benéfica para a economia, a causa faz bem à imagem da presidente Dilma Rousseff.

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A insistência em combater os juros, reforçada em discurso da presidente em cadeia nacional na véspera do Dia do Trabalho, tem por finalidade aproximar a taxa de crédito do Brasil a patamares internacionais, de acordo com o especialista em mercado financeiro Alberto Borges Matias. Enquanto no Brasil a equação crédito/PIB está em 48,2%, no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo, ultrapassam 100%.

– Nossa economia ainda é centrada em juros elevadíssimos. Se não houver pressão, os bancos não vão mudar as taxas – afirma Matias.

Desde que o Banco Central iniciou o ciclo de cortes na taxa Selic, no ano passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem defendendo que os bancos repassem a queda nos seus empréstimos. Diante de reduções consideradas pouco relevantes, o governo elevou o tom da cobrança.

No mês passado, Mantega criticou abertamente a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e disse que as instituições financeiras privadas têm condições de reduzir os spreads, a diferença entre o custo de captação e o empréstimo do dinheiro a clientes. Em abril, Dilma orientou as instituições públicas a encabeçarem um movimento de queda de juros.

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Caixa e Banco do Brasil anunciaram taxas menores para pessoa física e pequenas empresas no início do mês passado. Poucos dias depois, bancos privados fizeram o mesmo, mas, de acordo com analistas, os cortes foram apenas para modalidades que já tinham custos menores.

– Os bancos privados reduziram apenas as taxas mínimas dos empréstimos, cobradas de clientes que têm relacionamento com instituições e histórico de bom pagamento – explica Roberto Troster, ex-economista-chefe da Febraban.

Especialistas preveem novas ofensivas do governo para derrubar juros. Cobrança por mais transparência quanto a juros e tarifas e novos cortes nas taxas dos bancos públicos são medidas esperadas. Mas para que os juros em instituições financeiras privadas caiam significativamente, o governo terá de atacar as causas do problema, dizem especialistas.

Dono de um dos maiores juros básicos no mundo, o Brasil ainda atrai para os cofres públicos boa parte dos recursos do mercado financeiro. O país também carece de mecanismos de segurança em empréstimos, como fundos de garantia e cadastro positivo. Além disso, impostos e o depósito compulsório correspondem a quase um terço do custo do spread.

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– A presidente Dilma foi bem em iniciar uma tendência de redução de taxas de juros. Foi um gol na área da economia que já reflete nas pesquisas (de popularidade) – afirma o analista político Ricardo Caldas.