Especialistas da saúde reúnem esforços para chamar a atenção para uma doença que afeta mais de 6 milhões de mulheres brasileiras entre 13 e 45 anos. Responsável por 40% dos casos de infertilidade no país, a endometriose é uma das principais causas de ausência no trabalho em decorrência das fortes dores que causa.

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Com o objetivo de alertar para técnicas mais modernas de tratamento, a Sociedade Brasileira de Videocirurgia (Sobracil), em parceria com o hospital Santa Casa de Misericórdia e a Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), faz, entre sexta-feira e sábado, um mutirão para realizar oito cirurgias de endometriose profunda – estágio mais avançado da doença que, além de atingir o útero, chega ao intestino e ao trato urinário. No Estado, a videolaparoscopia, técnica utilizada na cirurgia, não tem cobertura total do Sistema Único de Saúde (SUS) para estes casos.

– Conseguimos doações de materiais mais caros que o SUS não fornece – afirma a ginecologista que coordena o mutirão, Raquel Dibi.

As cirurgias, feitas por um grupo interdisciplinar de profissionais, serão supervisionadas pelo presidente da Sobracil, o cirurgião e especialista em endometriose, Claudio Crispi. Mais moderna, a videolaparoscopia agride menos o organismo, garante melhor precisão e proporciona uma recuperação mais rápida se comparada ao método tradicional, coberto pela rede pública, que implica em cortes no abdômen feminino para ser realizado.

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– É um absurdo ainda se fazer cirurgias abertas para tratar endometriose. A videolaparoscopia é mais eficiente, além de ter um tempo de internação bem menor – opina o médico Carlos Isaia Filho, diretor do Centro de Medicina Reprodutiva de Porto Alegre.

Melhorar o atendimento público para as mulheres que sofrem com a doença também é a intenção da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE). A instituição mobiliza médicos em Brasília para que comissões da área da saúde subsidiem campanhas de conscientização e estimulem a criação de novos centros para o tratamento da patologia.

– Há estudos que mostram que os gastos do governo com a endometriose são semelhantes aos com diabetes e com a doença de crohn, doenças que, ao contrário da endometriose, são consideradas crônicas por essas comissões – explica o médico Mauricio Abrão, membro do conselho e fundador da (SBE).

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No que se refere à criação de políticas públicas, a endometriose não se enquadra na categoria de doenças crônicas – atualmente, ela está no grupo de doenças transmissíveis, mesmo não tendo origem contagiosa. Segundo a entidade, uma troca de grupo acarretaria maiores investimentos no diagnóstico e tratamento do problema. Atualmente, as mulheres descobrem que sofrem com o problema, em média, sete anos após o aparecimento dela.

– Estamos tentando sensibilizar o governo para a gravidade da doença – diz o presidente da associação, Rui Alberto Ferriani.

O que é:

A endometriose é caracterizada pela presença de endométrio – tecido que reveste o útero – fora da cavidade uterina. A causa mais comum para o desenvolvimento da doença é conhecida como “menstruação retrógrada”, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos, como ovários, peritônio e intestino. Além da impossibilidade de engravidar, a endometriose pode causar cólica menstrual intensa, sangramentos na urina ou nas fezes e dor forte durante o ato sexual.

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Sintomas:

– Cólica menstrual intensa

– Dor profunda na vagina ou na pelve durante relação sexual

– Dor pélvica contínua não relacionada a menstruação

– Obstipação intestinal ou diarréia no período menstrual

– Dor para evacuar

– Sangramento nas fezes

– Dor para urinar

– Sangramento na urina

– Infertilidade

Diagnóstico:

Após relato dos sintomas, a paciente passa por um exame clínico com o médico ginecologista. O especialista também pode solicitar exames de imagem complementares.

Diferença dos procedimentos:

Cirurgia aberta (coberta pelo SUS):

– Corte feito no abdômen

– Técnica mais invasiva

– Recuperação pode levar até um mês

Videolaparoscopia (sem cobertura total pelo SUS):

– São feitas três pequenas incisões, por onde entram os instrumentos cirúrgicos

– Agride minimamente os tecidos

– Maior efetividade na identificação das estruturas a serem operadas

– Recuperação em até uma semana, normalmente

Fonte: Dr. Carlos Isaia Filho, diretor do Centro de Medicina Reprodutiva de Porto Alegre