O jovem que vai à balada pode achar que não é tão perigoso assim usar uma “balinha” às vezes. O pai, preocupado, pode pintar um cenário de terror para manter o filho longe das drogas. O excesso de confiança de um e o de medo do outro podem ser armadilhas que facilitam o estrago das drogas nas famílias, alertam especialistas.

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A psiquiatra especializada em crianças e adolescentes Maria Aparecida Fontana diz que é fundamental o pai ter uma relação de confiança com o filho, conhecer os pais dos amigos dele e, se necessário, “xeretar e procurar conhecer sua vida”. A psicóloga da Univille Marciane Santos vai na mesma linha e afirma que o melhor caminho é a conversa franca sobre os riscos reais das drogas, sem demonizá-las, nem fazer pouco-caso delas.

A informação mais importante é ter claro que o ecstasy mata, sim, na maioria dos casos por overdose ou pelo excesso de ingestão de água que provoca, explica a médica Adriana Barotto, supervisora do Centro de Informações Toxicológicas (CIT) da UFSC, em Florianópolis, que reúne dados de médicos que atendem a intoxicados no Estado.

Mais: Veja uma infografia sobre os efeitos da droga no organismo

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A overdose é classificada como consumo de 200 mg da droga, algo como quatro ou seis comprimidos. Há relatos, porém, de morte após ingestão de uma única bala, alerta a médica. Na overdose, o mais comum é a pessoa morrer porque a droga eleva a temperatura corporal a ponto de danificar órgãos ou faz a pessoa beber tanta água que leva a edema (inchaço) do cérebro ou dos pulmões.

Companhias e estilo de vida são os sinais

Para os especialistas consultados pela reportagem de “A Notícia”, a primeira forma de os pais perceberem que o filho é um potencial usuário de ecstasy é o estilo de vida que ele leva. Jovens frequentadores de festas de música eletrônica, em especial raves, que adotam características desses eventos como usar óculos escuros à noite e dançar até de manhã, compõem o principal perfil de atendidos em SC, com intoxicações pela droga, segundo o Centro de Informações Toxicológicas (CIT) da UFSC. As companhias com que o filho anda, o que pode facilitar sua relação com traficantes, é outro ponto de atenção.

Estas são as principais formas de perceber um usuário eventual de ecstasy, que consome apenas nas festas, segundo os especialistas.

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– Como o efeito ocorre na balada e já sumiu quando o jovem chega em casa, é o estilo de vida que dá pistas -, orienta a psicóloga Marciane Santos.

Mesmo conhecida como droga que não vicia, o aumento do uso já tem demonstrado casos de dependência, garante o CIT. Aí os sinais são outros e mais perceptíveis, como inquietação, tremedeira, ranger dos dentes, depressão ou pânico, comuns a outras drogas ilegais.

Neste caso, ajuda psiquiátrica ou psicoterapêutica é recomendada pelos profissionais. Nos casos de intoxicação a ponto de a pessoa passar mal, o correto é procurar um médico e não esconder que tomou a droga, para que o profissional saiba como medicar o paciente.

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Dificuldades no diagnóstico

O médico emergencista que atendeu à garota de 17 anos pouco antes de ela morrer, em Joinville, no domingo passado, que prefere não se identificar, diz ter percebido em prontos-atendimentos onde trabalha e no Hospital Municipal São José um aumento de jovens com sintomas de abuso de drogas sintéticas. O maior número de ocorrências é após festas de música eletrônica, mas já houve situações em dias de semana. Ele também colabora com dados ao CIT da UFSC.

Segundo o médico, o caso de domingo lembra outro, de meados do ano passado, quando uma moça também morreu na cidade após ingerir ecstasy e ficar três dias internada em coma. Nos dois, havia indícios de excesso de consumo de água, o que pode ter levado ao edema do cérebro ou pulmões.

A principal dificuldade, segundo o profissional, é os jovens revelarem que tipo de droga usaram e se misturaram outras substâncias. O maior temor dos profissionais, porém, é que o comprimido vendido como ecstasy na verdade não seja a droga e, sim, substâncias mais perigosas, o que dificulta saber que tipo de tratamento aplicar em casos de intoxicação. A quetamina, um analgésico para cavalos, e o MDEA, produto usado para refinar petróleo, são exemplos de ecstasy falsos.

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