A exumação dos restos mortais do poeta chileno Pablo Neruda começou nesta segunda-feira no balneário de Isla Negra, na costa central do Chile, para esclarecer se ele foi assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet ou morreu de câncer, como afirma a versão oficial.
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O trabalho começou com a abertura da cripta onde estavam os restos mortais do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, perto do mar e ao lado da sepultura de sua terceira esposa Matilde Urrutia, sob a supervisão do juiz responsável pelo processo, Mario Carroza, além de advogados e dezenas de peritos forenses.
Peritos começaram a trabalhar na exumação dos restos mortais do poeta
Foto: Justiça do Chile, Divulgação, AFP
A operação busca determinar se Neruda morreu em 1973 pelo agravamento de um câncer de próstata, como afirma o atestado de óbito, ou se faleceu depois de ser inoculado com uma misteriosa injeção um dia antes de viajar ao México, onde pensava em morar no exílio e comandar a oposição a Pinochet, como denuncia seu ex-motorista Manuel Araya.
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No domingo, na casa-museu de Isla Negra, 120 km a oeste de Santiago, onde Neruda viveu seus últimos dias, foram realizados os trabalhos prévios à exumação, com a instalação de uma capa sobre o túmulo para evitar a contaminação da área e a remoção de quase 60 centímetros de terra que cobria a cripta. Depois da abertura da cripta, a operação segue com a retirada da urna e a identificação dos restos do poeta. Depois, a urna que contém os restos será transferida imediatamente à sede do Serviço Médico Legal do Chile (SML) em Santiago, que dirigirá os exames.
– As ossadas serão levadas a um laboratório de antropologia e serão realizados exames radiológicos, toxicológicos e antropológicos para buscar sinais de substâncias tóxicas e da doença do poeta -, explicou no domingo Patricio Bustos, diretor do SML.
As perícias durarão ao menos três meses para determinar se os restos mortais contêm ou não alguma substância tóxica que endosse a denúncia de Manuel Araya, segundo fontes judiciais. Um grupo de arqueólogos, antropólogos, médicos, toxicologistas e representantes da Cruz Vermelha Internacional participam dos trabalhos, acrescentou Bustos.
Apesar de Araya denunciar há quatro décadas o assassinato do poeta e militante do Partido Comunista (PC), apenas em junho de 2011 o PC chileno apresentou a denúncia judicial que possibilitou a exumação realizada nesta segunda-feira.
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De acordo com a versão de Araya, na tarde de 24 de setembro de 1973 – apenas doze dias após a instauração da ditadura de Pinochet – Neruda contou a ele e a sua esposa Matilde Urrutia que havia sido inoculado com uma injeção no peito, o que o havia feito se sentir muito mal.
Quase seis horas depois, o poeta faleceu na Clínica Santa María de Santiago, para onde havia sido levado por razões de segurança quatro dias antes. Um avião do embaixador mexicano da época, Gonzalo Martínez, esperava Neruda para que viajasse no dia seguinte.
A família de Neruda e a fundação que administra sua obra defendem a versão oficial de que ele faleceu como resultado do agravamento do câncer que sofria. O atestado de óbito de Neruda, ao qual a AFP teve acesso, atribui a morte do poeta a uma “caquexia do câncer”, derivada de um câncer de próstata com metástase.
O poeta Pablo Neruda, que morreu em 1973.
Foto: El Mercúrio, Reprodução