Imagine que você é, ao mesmo tempo, o recrutador de talentos e acionista de uma grande empresa. E que precisa achar um grande diretor para administrá-la. Assim como faz ao procurar um encanador, um pedreiro ou uma babá, com certeza você vai querer o profissional mais qualificado e indicado.
Continua depois da publicidade
Até porque é dos resultados que ele obtiver que depende seu futuro, seu bem-estar, seu dinheiro e o futuro da empresa. Agora, troque apenas nomes. A grande empresa passa a se chamar Prefeitura de Joinville e o cargo de diretor executivo é o de prefeito.
Qual perfil seria exigido para esse cargo se, em vez do voto, a seleção fosse com base em análise de currículos, entrevistas e testes psicológicos, como acontece com gestores da iniciativa privada?
“A Notícia” conversou com consultores de recursos humanos (RH) e os chamados headhunters (caça-talentos) e juntou uma série de critérios usados em grandes empresas que podem inspirar a escolha de um bom gestor público por parte dos eleitores.
Continua depois da publicidade
A ficha preenchida nestas páginas, de um prefeito “ideal” ou perto disso, foi enviada aos cinco candidatos de Joinville e respondidas por eles. As respostas serão publicadas na edição de quarta-feira.
A comparação entre gestão privada e pública não é absurda. Em estrutura, com 11 mil funcionários e orçamento de R$ 2 bilhões para o próximo ano, a Prefeitura de Joinville se assemelha até a unidades de multinacionais que atuam no Estado.
A clientela dessa “empresa” é de 520 mil pessoas – a população da cidade, que se beneficia das melhorias feitas por um prefeito e sua equipe de governo. Uma das diferenças é que a empresa privada busca lucro, enquanto na pública o foco é (ou deveria ser) o bem-estar da população.
Continua depois da publicidade
Unanimidade entre headhunters consultados, a busca por um bom gestor começa pelo conhecimento e experiência que ele acumula. Conhecimento é a formação, e só a faculdade já não basta.
– Hoje, é preciso ter especializações, mestrado, doutorado, cursos no exterior. No caso de gestores públicos, é bom ter conhecimento em áreas como gestão estratégica, administração, economia, gestão de pessoas -, diz a coordenadora da Orcali/Back RH, Mônica Kinder.
– Fluência em uma ou mais línguas, pelo menos no inglês, é outro critério básico, sem o qual o candidato nem passaria numa pré-seleção -, observa Lenir Nunes Amorim, da 4search, empresa de recursos humanos que atua em Joinville.
Continua depois da publicidade
Experiência é a forma como esse líder aplicou o conhecimento teórico na prática, os resultados que atingiu na carreira, como tirou uma empresa do vermelho ou expandiu outra que estava bem.
É o chamado “histórico profissional”, pré-requisito básico para a escolha de líderes em empresas privadas e que pode inspirar a escolha de gestores públicos, segundo especialistas.
Amarras necessárias
O mestre em sociologia política e coordenador do Instituto de Pesquisas da Univali, em Itajaí, Sérgio Saturnino, diz que há avanços na busca por uma gestão mais técnica e menos política em governos, fruto de regras estabelecidas na Constituição e de cobranças da opinião pública.
Continua depois da publicidade
Mesmo assim, diz que ainda há atrasos, como a indicação política e não técnica de cargos comissionados, algo mais difícil de ocorrer na iniciativa privada. Apesar de avanços, Saturnino lembra que a gestão pública ainda está fadada a ter mais amarras e obrigações legais – ou seja, ser mais burocrática e lenta – do que a gestão privada porque a cultura do País ainda é paternalista.
– Prevalece o hábito de governar se apropriando do que é público. Por isso, há necessidade de regras dizendo tudo o que não pode ser feito -, explica o mestre em sociologia.
LEIA MAIS: