Elton John no happy hour. Beatles para acompanhar o jantar. Antes de dormir, uma boa dose de New Order e Gloria Estefan. É mais ou menos esta a rotina dos noveleiros que acompanham Boogie Oogie, Império e O Rebu. As tramas da Rede Globo têm chamado a atenção do público pela tendência em resgatar sucessos de décadas passadas. A escolha não é aleatória, mas integra uma estratégia específica de atrair o espectador.

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Ao contrário da novela das seis – Boogie Oogie, que passeia pelos anos 1970 e, por isso, precisa ambientar a história com canções típicas daquela década – Império e O Rebu não são produções de época. Mesmo assim chamaram a atenção do público – e de maneira positiva – pela aposta em músicas antigas.

Mas de onde surgiu esse fenômeno de trazer para os dias de hoje os sons que marcaram gerações passadas? Quem tem a resposta é o estudioso Nilson Xavier, autor do site Teledramaturgia e do Almanaque da Telenovela Brasileira:

– É uma tendência de mexer com a memória afetiva das pessoas. Isso funciona e não é de hoje, sempre houve regravações ou músicas antigas em novelas. Mas atualmente o número é maior mesmos – explica.

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O responsável pela trilha das três novelas é Mariozinho Rocha, diretor musical da Globo que trabalha na emissora há mais de 20 anos – sempre cuidando das músicas das novelas. Para Emerson Gasperin, colunista do Diário Catarinense que curte e escreve sobre música há mais de 20 anos, o segredo talvez seja o fato do produtor musical preferir os sons antigos a atuais.

E emenda:

– Hoje resgatam-se aquelas músicas que você sempre ouviu na infância e adolescência e sempre vai adorar ouvir. Dona, do Roupa Nova (que está na trilha sonora de Império), foi tema da viúva Porcina em Roque Santeiro (1985/1986). Uma coisa interessante é que as trilhas das novelas atualmente no ar não saíram em disco, e sim em plataformas digitais. Tinha uma época em que as trilhas eram feitas para a novela. Depois começaram a escolher músicas cedidas por outras gravadoras.

Coordenadora do curso de Música da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Melita Bona acredita que a música tem o poder de despertar sensações e lembranças:

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– Ela pode marcar vários momentos da nossa vida. Há vários estudos que mostram como a função da música dentro da sociedade atende a vários aspectos do ser humano, principalmente emocionais. Você dificilmente construiria um clima nas novelas sem a música. A trilha sonora tem o poder de construir um ambiente que acaba atiçando o imaginário junto ao visual.

Xavier destaca ainda a identificação que os jovens têm com as músicas que fizeram sucesso na época em que os pais deles tomavam conta das pistas de dança:

– Justamente por serem clássicos, que todos conhecem, é maior o apelo para cativar o público, inclusive o mais jovem. Nosso telespectador é do mais variado, o que se reflete também na seleção de músicas para as trilhas. Acredito que a Rede Globo continue seguindo por este caminho.

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