Há quem chame de conspiração. Há quem chame de esperança. O fato é que o afastamento por 180 dias da presidente Dilma Rousseff (PT), ontem, gerou uma onda de manifestações em todo o país. Seja de forma favorável ou contrária às mudanças em curso no cenário político nacional, nas ruas ou na internet, todos os brasileiros pararam para refletir sobre o que vai, o que pode e o que deve acontecer daqui em diante.
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No Vale do Itajaí, o Santa abre espaço para que especialistas e líderes de entidades falem sobre quais são as expectativas caso o impeachment se torne realidade e a faixa presidencial seja entregue a Michel Temer (PMDB):
“Espera-se uma política econômica voltada para os interesses do país como um todo. Que venha para beneficiar efetivamente o nosso mercado – não os conglomerados, mas os pequenos e médios negócios _ para reativar nossa economia. De qualquer maneira, tem que se diminuir a taxa de juros, e de forma alguma se pode aumentar os tributos novamente. É uma questão fundamental para retomar o crescimento, inclusive no Vale, onde as taxas estão absurdas. Outro ponto é o câmbio, que já foi relativamente encaminhado – mostra que o setor externo já está se recuperando – e não podemos deixar valorizar de novo.” Nazareno Schmoeller, economista.
“O governo hoje contrata cada vez mais, gasta cada vez mais, mas não fecha a torneira. Com essa mudança, a promessa e a expectativa é de que se diminua os ministérios, se enxugue a máquina e faça essa engrenagem funcionar. Ou seja, que sigam os planos para que as obras que precisam ser feitas sejam executadas e o Brasil aconteça de novo. Hoje está tudo parado, basta olhar a BR-470. Temos mais de 30 lojas fechadas na Rua XV, de Novembro, e nos shoppings a situação é parecida. Mas a esperança é de que a crise passe. Para que o lojista volte para o mercado, possa abrir novamente sua loja, empregue mais pessoas e vá resolvendo esses problemas.” Helio Roncaglio, presidente da Câmara de Dirigentes e Lojistas (CDL) de Blumenau
“A saída da presidente Dilma talvez comece a dar um pouco de esperança, desde que Temer mostre já no começo quais são as diretrizes de seu governo _ e que isso vá de acordo com aquilo que o empresariado espera. Isto é: um governo austero e que pense em diminuir a máquina que se consome em si mesma. É preciso privilegiar os municípios onde a vida acontece, cuidando da nossa saúde, segurança, infraestrutura, educação e deixando que a iniciativa privada cuide do resto. Esperamos que, de cara, se mostre esse comprometimento com a melhora do país. No Vale queremos as melhorias prometidas há mais de 20 anos, como a duplicação da BR-470 e a ferrovia.” Carlos Tavares D’Amaral, presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib)
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“Pelos discursos de Temer, o que se espera é o cumprimento das promessas. Primeiro, a manutenção dos programas estruturais para que tenham continuidade. Para nós, o que importa é a continuidade dos investimentos que estão em andamento, principalmente a duplicação da BR-470. A recuperação da economia deve ocorrer no médio prazo, mas com o corte dos ministérios imaginamos que ocorra de fato. Acho que só o fato de as pessoas acharem que a mudança é positiva pode ajudar a melhorar, o ambiente positivo pode ajudar a resolver parte dos problemas da crise.” Clóvis Reis, professor, analista político e colunista do Santa
“As consequências do afastamento da presidente Dilma ainda são imprevisíveis. O impacto regional das mudanças ocorridas são incertas. Talvez os próximos 10 ou 15 dias nos proporcionem análises mais consistentes. No entanto, podemos adiantar que o nível de credibilidade da sociedade com as instituições políticas sofreu danos irreparáveis, não pelo impeachment em si, mas pela desconfiança com as agremiações partidárias e o ‘mundo’ da política tradicional. Acredito que nas eleições municipais os candidatos estarão a conviver com as desconfianças generalizadas por parte dos eleitores.” Flávio Ramos, professor da Univali e doutor em Sociologia Política pela UFSC